terça-feira, dezembro 2, 2025

Crítica de Haddad ao Banco Central não ajuda nem o governo – 04/11/2025 – Vinicius Torres Freire

No Banco Central, o ministro Fernando Haddad (Fazenda), daria um talho da Selic, pois taxa real de juros de 10% ao ano “não se sustenta”, afirmou nesta terça. Não se sustenta, é verdade. Dá em aumento ainda mais descontrolado da dívida pública, crescimento menor da economia, aumento ou estagnação da desigualdade de renda etc. É óbvio.

Supõe-se então que o ministro acredite no seguinte: se a direção do BC diminuir a taxa Selic nesta quarta, não haverá efeito colateral, prejuízo para a atividade econômica. Ou, então, tais efeitos seriam menores do que os custos de manter a Selic no nível em que está.

Mesmo que alguém pudesse acreditar nesse balanço positivo de perdas e ganhos, o problema nem é esse. Dados o nível de inflação, a inflação esperada para 2027 (3,8%, meta de 3%) e o descrédito dos credores no controle do tamanho da dívida e na moeda brasileira, BC não vai cortar a Selic. Nem mudar a meta de inflação, “na prática” —não agora.

Mas suponha-se que a direção do BC, submetida a lavagem cerebral, decidisse dar uma mãozinha eleitoral a Lula 3 e passasse a baixar a Selic. Ainda que não acontecesse mais nada depois de tal decisão, uma hipótese “tudo mais constante” desvairada, o corte da Selic pouco efeito teria no desempenho econômico do ano que vem. Não seria nem pragmático, assim como seria contraproducente elevar ainda mais o gasto.

Mas isso tudo é conversa doida. Na hipótese de lavagem cerebral bem-sucedida, essa dobradinha BC-governo teria como resultado alguma fuga do real, “alta do dólar”, e um aumento de taxas de juros para todos os demais prazos (a Selic é uma taxa de curtíssimo prazo).

Os donos do dinheiro grosso que não dessem o fora cobrariam mais para emprestar ao governo, ainda deficitário e que precisa tomar mais empréstimos a fim de pagar a conta de juros. É óbvio.

Então, supõe-se que o governo queira fazer “hedge” político-eleitoral (proteção contra a potencial “desvalorização” da carteira de votos governista). Se o desaquecimento da economia for maior do que ora se espera, se o salário médio parar de subir, se houver menos emprego novo, o bode expiatório seria o BC. Cola? Atribuir à política monetária um aumento de mal-estar (que aliás deve ser marginal) vai render voto extra de quem, da massa do povo?

Ainda que se tratasse de “hedge” político bem-sucedido, também essa operação teria custo. Se o governo acredita que a inflação está controlada e que a taxa de juros não tem influência na compensação do descrédito financeiro do governo, isso tem custo de reputação —a inflação está entre 4,5% e 5% ao ano e o déficit externo é grande e crescente, sinais de economia inflacionada. Isso para começar.

Para continuar, a atitude do ministro reforça suspeitas, exageradas, de que o governo pisaria ainda mais no acelerador do gasto a fim de dar um gás ao PIB no ano eleitoral. Tem gente pesada na praça do mercado que acha possível até o governo aparecer com um projeto de “tarifa zero” (subsidiar transporte público) já no ano que vem. Pois é.

Lula 3 poderia ajudar a antecipar o corte da Selic (e das taxas do mercado) com um plano de contenção de gasto. Não vai acontecer, é óbvio. O governo dá até agora dribles no arcabouço fiscal. Terá mais déficits, a perder de vista. Em anos de crescimento bom de PIB e receita, a dívida pública vai subir de 72% do PIB para uns 83% sob Lula 3.

O que quer o governo com essa conversa de juros do BC?


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