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Ao longo de séculos, mulheres negras recorreram a recursos disponíveis na natureza para cuidar de seus cabelos crespos ou cacheados. Sua avó pode ter compartilhado histórias sobre um tempo em que sabonetes caseiros e receitas à base de vinagre e óleos vegetais eram usados para lavar e condicionar os fios, ainda antes de existirem shampoo e condicionador adequados.
Nos últimos anos, porém, a indústria de cosméticos passou a olhar com mais atenção para o público negro e lançou produtos que transformaram a rotina de cuidados com o cabelo. Alguns saberes tradicionais permaneceram, como o uso de babosa e óleos vegetais, mas um novo desafio surgiu: frente a tantas opções, como escolher a melhor?
A resposta passa por conhecer seu tipo de cabelo e dominar informações sobre cuidados com o fio. Falaremos sobre isso nesta primeira edição.
Parece óbvio, mas sempre vale reforçar: é ultrapassada a ideia de que ser crespa ou cacheada é sinônimo de ter um cabelo ruim. Segundo a dermatologista Monalisa Nunes, o que diferencia os fios cacheados dos lisos é a distribuição de proteínas como a queratina.
“O fato de a curvatura ser diferente implica na hidratação e na oleosidade natural dos fios. Nos cabelos cacheados e crespos, essa oleosidade chega mais devagar à ponta.”
Saber qual o seu tipo de cabelo pode te ajudar a entender como ele se comporta e do que precisa. Veja na imagem abaixo:
Tipo 1 – Liso: O fio não forma onda e volta rapidamente ao seu formato original.
Tipo 2 – Ondulado: O fio forma ondas em S, podendo ficar liso quando escovado ou cacheado quando amassado.
Tipo 3 – Cacheado: O fio é denso com cachos pronunciados.
Tipo 4 – Crespo: O fio pode formar cachos enroladinhos ou em Z. É o mais fino de todos os tipos de cabelo.
Seu cabelo pode se encaixar em mais de um tipo —e isso é normal.
Fatores como genética, mudanças hormonais, velocidade de crescimento, tratamentos de saúde ou procedimentos capilares influenciam na forma dos fios.
Entender melhor seu cabelo vai ajudar você a encontrar os produtos adequados para ele.
Falando em cosméticos… Mulheres negras sempre cuidaram dos cabelos, mas nem sempre tiveram acesso a produtos adequados. Nesses casos, as receitinhas caseiras reinavam.
↳ Cremes com maisena, azeite, óleo de coco e abacate, além da tradicional babosa, eram aplicados nos fios, conta farmacêutica Mona Soares, autora do “Guia Essencial da Beleza Natural”.
Essas misturas oferecem os nutrientes necessários?
Depende. Para Nunes, algumas receitas são interessantes. “Principalmente com produtos hidratantes, como a glicerina, a aloe vera (ou babosa), o D-Pantenol, e umectantes, que são os óleos vegetais e as manteigas (de cacau ou karité, por exemplo).”
Por outro lado, cosméticos têm fórmulas mais complexas, que podem facilitar a absorção dos ativos, além de cheiros e texturas mais agradáveis. “Há mais estudo científico para chegar às composições, que tendem a ajudar de forma mais assertiva no cuidado com o cabelo, inclusive de acordo com a curvatura”, diz a dermatologista.
Mas… Isso não quer dizer que todos os produtos industrializados são melhores do que receitas caseiras. Por isso, a escolha deve levar em conta a formulação e a qualidade dos cosméticos.
Afinal, do que o cabelo crespo ou cacheado precisa?
1. Nutrição: é a reposição de óleo nos fios. “A oleosidade do nosso couro cabeludo não consegue chegar às pontas por causa da curvatura. A nutrição vem para repor esse óleo”, explica a cabeleireira especialista em cachos Loren Carvalho.
2. Reconstrução: é a reposição da massa capilar dos fios. A queratina, principal proteína que compõe o cabelo, vai se perdendo por causa de danos físicos, como o ato de pentear, e químicos, como o calor do secador ou a ação da água —do banho, da piscina ou do mar. Se seu cabelo estiver elástico ou quebradiço, aposte na reconstrução (mas não exagere, em excesso causa efeito contrário).
↳ Fique atenta: receitas caseiras não conseguem suprir essa necessidade dos fios, porque as moléculas de queratina e colágeno não são absorvidas em suas composições naturais.
3. Hidratação: é a reposição de água do cabelo. Para isso, uma alimentação equilibrada e um consumo de água adequado devem ser priorizados, pois hidratam o fio de dentro para fora, de acordo com Carvalho.
4. Acidificação: esse processo consiste em equilibrar o PH do cabelo e selar a cutícula do fio, reduzindo a porosidade. Pode ser feito com produtos específicos ou vinagre de maçã. Se você está com dificuldades para definir os cachos ou sente que a finalização não dura, pode ser hora de fazer uma acidificação.
Parece muito?
Calma, porque “o básico funciona sempre”, segundo a especialista. Te explico abaixo como alcançar tudo o que seu cabelo precisa.
Para Carvalho, uma rotina básica é dividida em quatro etapas —e uma boa máscara capilar resolve a maioria delas. “As máscaras têm um tempo de ação de cinco minutos. Dá para ter uma rotina funcional sem se sobrecarregar.”
Veja orientações da cabeleireira para uma rotina de cuidados:
Lave a cada dois ou três dias, independentemente da curvatura (e do frio)
“É o ideal para manter o couro cabeludo limpo. Isso é sinônimo de saúde e previne a queda”, diz Loren. “Não precisa ser todo dia, mas é importante não esperar muito para evitar a proliferação de fungos”, afirma a cabeleireira Luciana Lourenço.
↳ Se tiver cabelo crespo ou com uma curvatura mais fechada, reforce o uso de produtos nutritivos. Um shampoo hidratante pode ser menos agressivo do que um anti-resíduos, por exemplo.
Use máscara de nutrição semanalmente
As máscaras têm ação condicionante e, por isso, podem substituir o condicionador em toda lavagem. No inverno, o óleo vegetal pode ajudar a lidar com o ressecamento extra provocado pela estação.
Faça a acidificação a cada 15 dias
O processo envolve lavar o cabelo com shampoo, aplicar o acidificante, deixar agir e enxaguar, finalizando com uma máscara ou condicionador.
Não se esqueça da reconstrução uma vez por mês
Há linhas completas com shampoo, máscara e creme com função reconstrutora.
↳ Se tiver necessidades específicas, por causa do uso de coloração ou outras químicas, consulte um profissional.
O que é dispensável? Na opinião de Carvalho, você pode deixar o pré-poo de lado. A técnica consiste em aplicar um óleo ou creme nos cabelos antes da lavagem para prevenir a perda de hidratação excessiva. “Como a finalização deixa produto no cabelo, não precisa passar mais um antes da lavagem”, diz.
Para terminar o papo, mais seis dicas das especialistas:
- Atente-se ao couro cabeludo. Aplicar na raiz produtos indicados para o comprimento dos fios ou deixar excesso de creme na região pode causar oleosidade, caspa e até ferimentos.
- Priorize desembaraçar seu cabelo no banho, enquanto passa a máscara, ou com ele molhado. Isso reduz atrito e quebra dos fios. Com o cabelo já desembaraçado, você pode escolher o creme de pentear a partir de sua função de finalizador, para dar volume, definição, entre outros resultados.
- Use a indicação de curvatura da embalagem a seu favor. Geralmente, produtos para cabelos crespos têm maior concentração de óleo, enquanto as fórmulas indicadas para fios cacheados são mais hidratantes. Avalie suas necessidades para escolher.
- Fuja de penteados com cabelo molhado. A umidade aumenta a proliferação de fungos e bactérias e pode levar a problemas de saúde mais sérios.
- Evite química em excesso. Alisantes, descolorantes e outros componentes químicos causam danos aos fios.
- Escolha profissionais adequados, que valorizem sua beleza e evitem danos irreparáveis ao seu cabelo.
Questão de saúde
Um dos principais problemas de saúde capilar é a dermatite seborreica, também conhecida como caspa. Segundo Monalisa, o excesso de produtos no couro cabeludo facilita a proliferação de fungos que levam à descamação da pele. Fatores genéticos e hormonais também podem causar caspa, mas cuidados adequados, como os citados anteriormente, minimizam os riscos.
Dica de amiga
Os tecidos de cetim são os melhores para evitar o frizz na hora de dormir, pois diminuem o atrito dos fios com a superfície. Se usar touca causa incômodo para você, também há opções de fronhas feitas com o tecido. Mas lembre-se: o frizz é natural.
