O ex-ouvidor da Polícia de São Paulo Elizeu Soares Lopes foi denunciado em setembro deste ano pela ex-companheira sob suspeita de violência doméstica.
Larissa Marçal Cunha, que é ex-delegada em Minas Gerais, obteve na Justiça uma medida protetiva de urgência. Elizeu nega as acusações, afirma que ficou surpreso com a decisão e diz que vai processá-la por calúnia.
Advogado, Elizeu é ativista de direitos humanos e do movimento negro. Ele foi nomeado ouvidor da polícia —espécie de ombudsman da corporação— em 2020 pelo ex-governador João Doria e ocupou o cargo até 2022. No ano seguinte, foi nomeado para o posto de chefe da assessoria de Participação Social e Diversidade, do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Os dois se conheceram em agosto do ano passado, em Brasília, durante reunião no Ministério da Justiça.
Depois, passaram a se relacionar. A defesa da ex-delegada afirma que Elizeu a convidou para um evento, a levou para um almoço e teria insistido que ela ingerisse bebida alcoólica, o que seria o início de uma relação forçada.
Em dezembro, ela registrou um boletim de ocorrência contra Elizeu, relatando um caso de violência doméstica. O casal reatou, e ele teria prometido que aqueles episódios não se repetiriam. No mês seguinte, a ex-delegada retirou a queixa e alegou que havia tomado remédios e não se recordava do que havia declarado.
Em um processo movido neste ano ao qual a Folha teve acesso, a defesa de Larissa disse à Justiça que Elizeu utilizaria ameaças veladas e explícitas, como dizer que tinha contatos poderosos em Brasília, inclusive na segurança pública. Ela é representada pelas advogadas Talitha Camargo, Lívia Bueno e Izabela Jamar.
“O objetivo dessas ameaças era minar a confiança da vítima e impedi-la de buscar seus direitos”, diz a defesa nos autos.
Ainda em janeiro, Elizeu foi exonerado do Ministério da Justiça. A reportagem procurou a pasta e questionou se a demissão estaria relacionada com a denúncia. O ministério afirmou apenas que a saída ocorreu “em decorrência de uma readequação de equipe”.
Após a demissão, os dois se mudaram para São Paulo, onde novos episódios de violência foram registrados, de acordo com as advogadas. Em agosto, terminaram o relacionamento. No mês seguinte, a defesa de Larissa entrou com um pedido de medida protetiva de urgência, que foi negado no dia 25.
A defesa recorreu no mesmo dia, sustentando que o quadro psicológico da ex-delegada estava em risco devido às condutas intimidatórias de Elizeu, como ligações com tom agressivo.
No dia 26 de setembro, as medidas protetivas foram deferidas. O juiz considerou haver indícios, em princípio, de violência doméstica e destacou que, em situação de emergência, o depoimento da vítima tem extrema relevância.
No mesmo dia em que Larissa conseguiu a medida, policiais foram a sua casa realizar uma busca e apreensão. Isso porque Elizeu havia registrado um boletim de ocorrência em que dizia que a ex-delegada estava em posse de itens escolares dos seus filhos e objetos dele.
A defesa voltou a recorrer à Justiça, afirmando que Elizeu havia descumprido a medida protetiva e solicitou uma tornozeleira eletrônica, o que foi negado pois ele ainda não havia sido encontrado para ser notificado.
Ex-ouvidor diz que vai processar Larissa por calúnia
Procurado, o ex-ouvidor afirmou que não tinha conhecimento da medida protetiva e que ficou muito surpreso com a informação. “A medida protetiva é de uma pessoa com quem me relacionei e que já havia feito um boletim de ocorrência alegando assédio moral e sexual, depois foi até a polícia espontaneamente para desmentir o que havia dito e o caso foi devidamente arquivado.”
Elizeu afirmou que Larissa é alvo de um inquérito em Minas Gerais sob suspeita de assédio sexual, perseguição, difamação e violação de sigilo profissional. O processo de fato existe e, nos autos, a defesa da ex-delegada negou a acusação e disse tratar-se de uma perseguição sofrida por parte de antigos funcionários.
O ex-ouvidor acusa Larissa de tentar destruir sua vida “como já tentou destruir outras”. “Não posso permitir. Vou representá-la criminalmente por denunciação caluniosa e também tomar todas as medidas na esfera cível para compensar o desgaste moral, material, profissional e financeiro que ela está me causando.”
Após o primeiro contato da reportagem, Elizeu foi intimado pela Justiça. A Folha voltou a procurá-lo, mas não teve resposta até a publicação desta reportagem.





