quinta-feira, novembro 27, 2025

Lições do caso Banco Master – 08/11/2025 – Opinião

O Brasil já passou por episódios de estresse bancário, cujo histórico de resoluções foi positivo, no mais das vezes, pela competência regulatória do Banco Central. A solidez do sistema financeiro no país é reconhecida mundialmente.

No entanto, no caso do Banco Master, a regulação e o escrutínio da autoridade monetária deixaram a desejar e permitiram o crescimento desmesurado de riscos para o sistema, que agora precisam ser enfrentados.

A questão essencial foi a captação vultosa de CDBs pelo banco, que chegou a R$ 50 bilhões, atraindo investidores com promessas de rentabilidade de até 140% do CDI —bem acima das taxas oferecidas por outros bancos médios.

Em maio, o Master recorreu a uma linha de liquidez de R$ 4 bilhões do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), cujos ativos resultam de contribuições de todas as instituições bancárias que captam depósitos. Uma eventual liquidação do banco pode forçar o fundo a indenizar os clientes, sobrecarregando todos o sistema em montantes inéditos.

A captação excessiva foi ampliada por incentivos como as comissões recebidas por agentes de mercado para distribuir os papéis, prática que não é transparente para os poupadores. A venda para os clientes era alicerçada na garantia do FGC, que cobre perdas de até R$ 250 mil.

Para prevenir mais problemas, o BC em agosto já havia dobrado as contribuições exigidas de bancos que têm acima de 60% dos depósitos cobertos pelo fundo.

As novas regras valem a partir de meados de 2026 e também incluem exigências de aplicações em títulos federais para instituições com alavancagem acima de dez vezes o patrimônio líquido.

Agora, a autoridade monetária propõe maior transparência na remuneração de corretoras e assessores na venda de CDBs, LCIs e LCAs aos clientes.

A ideia, inspirada nas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fundos de investimento, obriga a divulgação clara de comissões e conflitos de interesse, permitindo que o investidor compare custos reais.

É um passo necessário, pois incentivos moldam resultados: quando plataformas ganham mais vendendo papéis arriscados de bancos pequenos, o varejo ignora alertas de solidez.

Erode-se, assim, a necessária disciplina de mercado. Sem transparência, o FGC se torna uma muleta para emissões predatórias, onerando o sistema inteiro. O episódio Master deve servir de lição, e o fundo não pode se transformar em mecanismo a ser aproveitado por aventureiros.

editoriais@grupofolha.com.br

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