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Melatonina: quando usar e riscos do consumo prolongado – 25/11/2025 – Equilíbrio e Saúde

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Você se deita, apaga as luzes e, em vez de adormecer, começa a rolar na cama. A mente acelera, a ansiedade cresce e o sono parece distante. Na busca desesperada por uma solução rápida, muitos recorrem à melatonina.

Ela é um hormônio produzido naturalmente pelo corpo, mas se popularizou como suplemento, vendido como um atalho fácil para resolver um problema complexo: dormir melhor.

Se você lê esta newsletter, já sabe: quando o assunto é saúde, é preciso desconfiar de soluções simples para dilemas complexos. Antes de recorrer a pílulas, gominhas ou gotinhas de melatonina, veja o que especialistas em sono querem que você saiba.

1. Melatonina não é útil para tratar insônia

O erro mais comum é pensar na melatonina como um hipnótico, um remédio que “desliga” o cérebro. Ela não atua assim.

Sua produção no cérebro é intensificada com a diminuição da luz. O hormônio sinaliza para o organismo que a noite chegou, ajusta o metabolismo de cada célula, preparando o terreno para o sono, explica Pedro Genta, pneumologista do InCor (Instituto do Coração) e especialista em medicina do sono.

Ela é o hormônio da noite, e não do sono. Sua principal função é a sincronização, ajudando a regular o ritmo biológico. Sinalizar o início do sono não significa que a suplementação tenha indicação para insônia. O uso é pouco eficaz, quase inócuo, para o tratamento.

↳ A insônia não é apenas a dificuldade de iniciar o sono, mas também a dificuldade de manutenção (despertares frequentes) ou o despertar precoce. E melatonina não ajuda a manter o sono, nem dá qualidade a ele.

2. Tomá-la em horários inconsistentes pode bagunçar seu organismo

Cada pessoa tem um ritmo biológico diferente. Algumas têm a tendência a dormir e acordar mais cedo (matutinas) e outras, a realizar tarefas mais tarde (vespertinas).

A liberação de melatonina pelo cérebro acontece de acordo com a individualidade de cada um —quem é mais matutino, por exemplo, tem um pico do hormônio mais cedo durante a madrugada.

E, se o papel da melatonina é criar um ritmo, usá-la de forma irregular é como dar ao maestro uma partitura diferente a cada noite. Tomar o suplemento às 21h em um dia e à 1h da manhã no outro, por exemplo, é uma prática que os médicos desaconselham.

Dalva Poyares, neurologista e pesquisadora do Instituto do Sono, alerta que introduzir o uso do hormônio em horários diferentes a cada noite vai contra o princípio de regularidade que o corpo precisa. Essa variação pode atrapalhar o ciclo biológico natural e desregular ainda mais o organismo.

3. Seus usos são para situações muito específicas

Embora não seja recomendada para a queixa comum de insônia, a suplementação tem utilidade. Os especialistas com quem falei explicaram que ela pode ser consumida em cenários clínicos bem definidos. As indicações mais estudadas incluem:

  • Jet lag: para ajudar o corpo a se adaptar mais rapidamente a um novo fuso horário durante viagens.

  • Transtornos de ritmo circadiano: em casos de atraso ou avanço de fase do sono, como adolescentes que só conseguem dormir muito tarde ou idosos que dormem cedo demais.

  • Pessoas cegas: especialmente aquelas sem percepção de luz, para ajudar a sincronizar o ciclo de sono e vigília.

  • Transtorno do Espectro Autista (TEA): pode ajudar a regular o sono e, em alguns casos, melhorar o comportamento.

  • Transtorno Comportamental do Sono REM: um distúrbio em que o indivíduo se mexe durante a noite, encenando fisicamente seus sonhos.

Note que todas essas são condições diagnosticadas, muito diferentes da queixa geral de “não consigo dormir”.

4. São poucos estudos sobre a segurança da suplementação a longo prazo

Os especialistas explicam que sempre existiu uma percepção de que o suplemento de melatonina era inofensivo. Uma pesquisa recente, porém, trouxe um alerta de que ele pode não ser totalmente inócuo como se pensava.

↳ Um estudo preliminar associou o uso a um risco maior de insuficiência cardíaca, hospitalização e morte em pessoas com insônia crônica. Ele não comprova relação de causa e efeito, apenas levanta preocupações sobre segurança.

5. O melhor ‘sincronizador’ é uma rotina consistente

Se a melatonina não é a solução mágica, qual é? Para os especialistas, a resposta é clara: o tratamento de primeira linha para a insônia crônica não é medicamentoso, mas sim comportamental.

A abordagem padrão-ouro é a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I). Uma de suas técnicas mais poderosas, segundo Pedro Genta, é limitar o tempo que a pessoa passa deitada sem dormir. Ou seja: evitar ficar revirando na cama sem sono.


Manter horários consistentes para deitar e levantar, inclusive nos fins de semana, é o sinal mais poderoso que você pode dar ao seu corpo. Outras práticas incluem se expor à luz natural da manhã e reduzir a intensidade das luzes artificiais à noite.

A verdadeira regulação do sono é uma construção diária. Investir na rotina gera benefícios duradouros que nenhum suplemento pode replicar.

O que tirar disso tudo? A mensagem final não é de pânico, mas de cautela. A melatonina é um hormônio poderoso, e a automedicação, além de ter baixa chance de funcionar para a insônia, pode mascarar problemas de saúde mais sérios e trazer riscos desconhecidos a longo prazo.

Para quem toma melatonina a longo prazo, a sugestão é consultar um profissional de saúde para discutir a continuidade do tratamento. Não se deve parar de tomar subitamente ou ser alarmista, mas, na opinião dos médicos, é oportuno rediscutir se a manutenção do medicamento é realmente necessária.

O que você precisa saber

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Ouvir música está associado a menor risco de Alzheimer, sugere pesquisa. Um estudo australiano, publicado em outubro, acompanhou por dez anos mais de dez mil idosos saudáveis —com 70 anos ou mais— e concluiu que aqueles que escutavam música na maioria dos dias tinham 39% menos risco de desenvolver demência do que quem não mantinha esse hábito.

Mudar hábitos pode prevenir casos de câncer de fígado. Um relatório recente da Lancet Commission sobre carcinoma hepatocelular, principal tipo de câncer de fígado, revela que até 60% dos casos da doença poderiam ser evitados com o controle de fatores de risco como obesidade, hepatites B e C e consumo excessivo de álcool.

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