sexta-feira, novembro 28, 2025

Os 3 Ps que sabotam sua independência financeira – 25/11/2025 – De Grão em Grão

Quem já tentou empurrar um carro enguiçado sabe que o mais difícil não é mantê-lo em movimento, e sim fazê-lo sair do lugar. Michel de Montaigne lembrava que “dizer é uma coisa; fazer é outra”, numa advertência que atravessa séculos e continua atual: o problema raramente é saber o que precisa ser feito, mas transformar esse saber em ação. Quando falamos de independência financeira, essa distância entre intenção e gesto costuma ser o verdadeiro obstáculo.

Entender o objetivo final é simples. Se você deseja uma renda mensal futura, basta mirar em acumular algo próximo de 250 vezes o valor dessa renda. Quem sonha com R$ 10 mil por mês precisa de cerca de R$ 2,5 milhões investidos. A lógica não é complicada. O que complica são as pedras no caminho, que surgem muito antes da conta e dificultam justamente o primeiro passo.

A primeira dessas pedras é a procrastinação. Adia-se o início como quem espera o momento perfeito, acreditando que ele está sempre no próximo mês. Esse adiamento tem custo. Começar a investir apenas um ano mais tarde pode exigir contribuições cerca de 15% maiores ao longo da vida para alcançar o mesmo patrimônio. O tempo é generoso com quem começa, e implacável com quem espera.

A segunda pedra é o preciosismo. Muitos gastam meses procurando a estratégia impecável, o produto mais avançado ou a combinação perfeita de investimentos. É como discutir o melhor material do casco antes mesmo de colocar o barco na água. Nos primeiros anos, o que realmente importa é a constância dos aportes, não a sofisticação da carteira. A busca pela perfeição, nesse estágio, atrasa mais do que ajuda.

A terceira pedra é a paralisia. Em um mercado com tantas opções, opiniões e recomendações, é comum que o excesso de possibilidades produza inação. A dúvida se transforma em um abrigo confortável, uma sensação de prudência que, na prática, impede qualquer avanço. Só que não decidir já é decidir —e quase sempre contra si mesmo.

Esses três Ps formam um bloqueio silencioso, mas poderoso. Não têm relação com fórmulas financeiras complexas, e sim com comportamento. A independência não nasce de grandes descobertas, mas de pequenos gestos repetidos por muitos anos. É disciplina antes de técnica, hábito antes de ambição, e ação antes de análise.

A boa notícia é que, ao remover os três Ps, a estrada se torna mais clara. O primeiro aporte pode ser pequeno, mas inaugura algo maior: o hábito de mover o carro todos os dias até que ele passe a andar sozinho. E, como Montaigne lembraria, o valor está no fazer, não apenas no dizer.

No fim, a pergunta essencial não é quanto você ganha ou o quanto entende de finanças, mas o que está disposto a fazer hoje. Porque a independência financeira não depende de desvendar o futuro, e sim de começar a construí-lo agora.

Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.


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