É raríssimo, porém consegui me planejar com antecedência para me sentar tranquilamente no sofá a fim de assistir a um jogo da Champions League, pela quinta das oito rodadas do Grupão –no regulamento atual, na etapa classificatória há um único grupo com 36 times.
Chelsea x Barcelona, no Stamford Bridge, em Londres, tinha o atrativo de ser um confronto entre duas das melhores equipes da Europa: o primeiro campeão do Supermundial da Fifa, atuando em casa, contra o atual campeão espanhol, sinônimo de futebol de qualidade.
Mais que isso, calhou de ser o primeiro duelo entre dois jogadores que representam o que há de melhor na nova geração de atacantes do futebol: os pontas-direitas esguios, magrelos e canhotos Lamine Yamal, espanhol do Barça, e Estêvão, brasileiro dos Azuis.
Calhou de ser porque Yamal é titular absoluto do time catalão, herdando a 10 que foi de Lionel Messi, e Estêvão busca convencer o treinador italiano Enzo Maresca de que pode sê-lo no Chelsea.
Assim, foi uma felicidade quando vi o ex-palmeirense (ele faz falta, não faz, torcedor palestrino?) entrar em campo com a sua habitual camisa 41.
A expectativa tornou-se enorme. Até para ver se o que outros declararam, e que eu me vejo distante de declarar, seria comprovado: que Yamal e Estêvão são gênios da bola.
“Um novo gênio do futebol, muito jovem, emergindo” afirmou Sami Trabelsi, o técnico da Tunísia, sobre o brasileiro. No amistoso entre Brasil e Tunísia, neste mês, Estêvão jogou bem e fez, de pênalti, o gol da seleção de Carlo Ancelotti no 1 a 1 em Lille (França).
“Há jogadores que são excepcionais, e Lamine é um deles. Sempre digo: ele é um gênio”, disse o alemão Hansi Flick, treinador do Barcelona, em maio, depois de mais uma partida muito acima da média de Yamal.
Com essas conclusões, eu esperava ver seguidamente jogadas fabulosas dos dois jovens chegados neste ano à maioridade. Estêvão, nascido em Franca (SP), completou 18 anos no dia 24 de abril, e Yamal, de Esplugues de Llobregat (Grande Barcelona), no dia 13 de julho.
Não foi o que aconteceu, especialmente do lado do atleta mais badalado.
O Chelsea exerceu domínio quase total sobre o visitante passados pouco mais de dez minutos do primeiro tempo, e Yamal pouco participou da partida.
Viu-se anulado pela marcação duríssima do compatriota Cucurella e finalizou uma única vez, de longe, para defesa sem grande esforço do goleiro Sánchez, outro compatriota.
Nenhum lance mágico. Foi passando o tempo e, com o placar adverso, o eleito melhor jogador jovem das temporadas 2023/2024 e 2024/2025 na premiação Bola de Ouro pareceu desinteressar-se do jogo.
Do outro lado, Estêvão esteve melhor. Participativo, cobrou escanteios, falta e, em excelente passe nas costas da zaga, deixou Pedro Neto em situação clara de gol. O português “isolou”.
No segundo tempo, então, Estêvão teve momento genial. Aos 10 minutos, recebeu passe na entrada da área e, em velocidade, invadiu-a, perseguido por Cubarsí e Balde.
Com um drible curto, entortou o primeiro, adiantou a bola com o pé direito (o “ruim”) e, da entrada da pequena área, com o mesmo pé direito, antes da chegada do segundo, que se atirava em um carrinho desesperado, “fuzilou” o goleiro Joan García.
Um gol com finalização parecida com a do que ele tinha feito na partida em que o Palmeiras perdeu do Chelsea (2 a 1) no Supermundial, em julho.
Ampla comemoração, e Estêvão está “registrando” uma sua, a meia língua para fora da boca, repousada à direita entre os lábios.
Era o segundo gol do time inglês. O primeiro, ressalte-se, validado depois de a checagem do VAR (árbitro de vídeo) não identificar na jogada impedimento de Cucurella que meus olhos juram que foi.
Depois, o Chelsea ampliou para 3 a 0, e Yamal, sem um único lampejo de Yamal, foi substituído aos 34 minutos para sentar-se, olhar perdido, no banco do Barça.
Dois minutos depois, Estêvão saía, ovacionado. Um garoto na arquibancada segurava um cartaz com a imagem dele e a bandeira do Brasil. Apontava para a foto como se dissesse: “Olhem. Este é o cara”.
Neste 25 de outubro de 2025, ele foi. Longe de ser gênio, Estêvão levou vantagem ampla sobre o também não gênio Yamal –gênios são Pelé, Garrincha, Maradona, Messi e outros poucos.
No primeiro embate entre eles, Estêvão na frente: 1 a 0. Há de haver outros.





