quinta-feira, novembro 27, 2025

Investimento de impacto une Faria Lima, favela e retorno – 27/11/2025 – Rede Social

Na noite desta terça-feira (25), Diego Barretto, CEO do iFood, ofereceu um jantar em sua casa nos Jardins, em São Paulo, para apoiar o projeto Favela 3D — Digna, Digital e Desenvolvida, uma iniciativa da ONG Gerando Falcões espalhada em 15 comunidades em diferentes estágios de implantação.

Desta vez, nada de pedir doações. Empresários, banqueiros, executivos e herdeiros presentes foram convidados a se tornar investidores em um negócio social que inova ao unir Faria Lima, onde pulsa o coração financeiro do país, favela e mercado de ativos digitais, com tokens e bitcoins.

“Estamos criando um novo paradigma diante do dilema entre filantropia, que tem o seu valor mas é limitada, versus investimento com retorno. Essa é a grande mudança que queremos colocar de pé”, explicou Barreto, ao detalhar o modelo de negócio e de investimento cocriado em 90 dias por ele e Edu Lyra, fundador da Gerando Falcões.

“É a oportunidade de todo mundo aqui ser um fundador desse modelo inovador com uma estrutura que converte doação em investimento”, prosseguiu o anfitrião, ao apresentar o desenho financeiro e de remuneração para captar R$ 3,6 milhões, com retorno de 8% ao ano, entre um pool de investidores dispostos a desembolsar entre R$ 50 mil e R$ 150 mil.

O executivo e o empreendedor social contaram com o suporte de parceiros de peso na empreitada de estruturar a operação como se fosse uma emissão de debêntures.

O desenho foi feito com a ajuda de especialistas do Bank of America, de advogados do escritório Mattos Filho e da Mercado Biticoin, plataforma de ativos digitais que tem uma área dedicada a investidores de alta renda e Family offices, público alvo da noite.

“A gente quer juntar as KPIs [Indicadores-Chave de Desempenho] de negócio da favela com as KPIs de negócio da Faria Lima”, resumiu Lyra, sobre o projeto-piloto de Favela 3D no Jardim Leni, na zona sul de São Paulo, a ser financiado com garantia de retorno do capital investido.

Ao longo dos últimos cinco anos, a Gerando Falcões implantou pilotos com recursos filantrópicos, como a Favela Marte, em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, onde o desemprego de 70% foi reduzido a menos de 6%.

“Criamos uma tecnologia social que levou pleno emprego e empreendedorismo para a favela. Derrubamos barracos e construímos casas. Um fato notável que virou ‘case’ de estudo”, afirmou Lyra. “Mas para ganhar escala o dinheiro da filantropia não é suficiente.”

Segundo ele, os R$ 12 bilhões anuais de capital filantrópico são insuficientes diante da “crise da desigualdade” no país. “No Brasil, existem 12 mil favelas, que são muito mais do que facção, violência e drogadição. É uma força de inovação, de potência.”

A proposta é atrair novos investidores com mais uma alternativa na cesta de finanças de impacto, tendo a “transformação social como ativo”. “Ao invés de ficar só ganhando dinheiro, é trocar juros por impacto. É disso que eles estão falando”, avaliou Tatiana Queiroz, presidente da Somos Um e investidora de impacto.

Não se trata de “blended finance”, estratégia de investimento que combina recurso filantrópico e privado, para financiar projetos de impacto socioambiental.

O plano de investimento no novo modelo proposto para a Gerando Falcões foi mostrado em slides projetados na sala de jantar.

Pelo esquema apresentado, o investidor privado empresta recurso para gerar transformação na favela, a Gerando Falcões distribui o valor entre projetos na comunidade em parceria com associação de moradores. As famílias selecionadas vão aplicar o dinheiro em iniciativas de infraestrutura, educação e geração de renda e se comprometem a devolver o valor investido.

“Vamos fazer tudo isso via Token. O investidor vai ver os resultados na nossa plataforma”, explicou Felipe Whitaker, diretor de Wealth Management da MB Ultra, braço do Mercado Bitcoin, unicórnio brasileiro com 4,3 milhões de clientes.

A tokenização simplifica a jornada do investidor, que poderá fazer a aplicação via PIX ou cartão de crédito, em até 10 parcelas, além de permitir acompanhamento do progresso do projetos e o retorno do investimento estruturado como um papel de renda fixa com retorno ao longo de cinco anos.

O valor captado beneficiará 250 famílias já cadastradas nesse piloto. Como o “payback” do investimento é previsto em cinco anos, para que o o capital investido seja recuperado nesse prazo, cada beneficiário fará pagamento fixo de R$ 292,88 por mês. Uma modelagem financeira que prevê taxa de 10% de inadimplência.

Henri Zylberstajn, CEO da Zuk, acredita que a iniciativa pode virar modelo para o Terceiro Setor, que ainda sobrevive em grande parte dos humores da filantropia.

Ele puxou a fila de investidores adquirindo uma quota R$ 150 mil, também escolhida pelo publicitário Nizan Guanaes e sua mulher, Donata Meirelles. “Se esse modelo se provar, é um negócio espetacular e um caminho”, disse Nizan.

Bruno Setubal, da família dona do Itaú Unibanco, optou por investir R$ 100 mil. “Meu pai roubava o banco do Bruno. Não é uma piada, é verdade”, disse Lyra, ao agradecer a generosidade do herdeiro e se referir ao fato de ser filho de um ex-presidiário condenado por assalto. “Eu continuo pegando dinheiro do banco do Bruno, só que agora tudo é auditado pela KPMG.”

O “sonho grande” dos anfitriões da noite era captar 100% do recurso previsto. Chegaram a metade da meta, com R$ 1,8 milhão desembolsados por cerca de 30 investidores de primeira hora.

Segundo Barreto, caso a lógica de investimento seja validada neste projeto-piloto da Gerando Falções, “o céu é o limite” para fazer do combate à pobreza uma oportunidade de investimento em escala.

“Se der certo, esse grupo de investidores vai poder dizer que nós achamos um negócio social capaz de gerar dignidade com escalabilidade enorme em um modelo replicável não só no Brasil mas no mundo.”

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