sexta-feira, novembro 28, 2025

De volta à Netflix, Philomena Cunk investiga “o sentido da vida”

Após destrinchar a história do planeta Terra em O Mundo por Philomena Cunk, a personagem que dá nome à série volta à carga, desta vez para elucidar os aspectos mais intrigantes da vida humana no planeta. A Vida por Philomena Cunk marca a volta da repórter interpretada pela comediante Diane Morgan em mais um mockumentary produzido pela Netflix em parceria com a BBC, desta vez com a missão nada fácil de investigar “o sentido da vida”.

O tom do longa metragem segue o padrão estabelecido na obra anterior: um falso documentário que mistura entrevistas reais com acadêmicos e artistas a comentários absurdos da apresentadora. O resultado é uma comédia que brinca com a seriedade da filosofia, da ciência e da arte, transformando conceitos complexos em piadas que parecem infantis, mas carregam uma crítica implícita à desinformação contemporânea.

O especial é dirigido por Al Campbell e escrito por Charlie Brooker, Ben Caudell e Erika Ehler. Mais uma vez, é impossível assistir à performance de Diane na pele de Philomena Cunk sem ceder ao riso pelos absurdos ditos por ela aos especialistas. Ou, nas próprias palavras da “repórter”, “às mais importantes perguntas que podem ser ditas pela boca a mamíferos profissionais”.

Filme é dividido em capítulos

Dividido em capítulos que vão desde a criação da vida à física quântica, o filme brinca com provocações nonsense que só funcionam porque são feitas diante de especialistas renomados — físicos, filósofos, teólogos. Os especialistas tentam responder com paciência, mas acabam revelando o contraste entre o rigor acadêmico e a ingenuidade absurda da entrevistadora.

Alguns momentos são exemplos sólidos do humor da produção, como quando Philomena Cunk, em visita ao laboratório que abriga o Grande Colisor de Hádrons, nos arredores de Genebra, pergunta se o equipamento foi construído para provar a existência dos chacras no corpo humano.

A notável paciência dos entrevistados frente a perguntas claramente estúpidas, sobre se os computadores que jogam xadrez sabem como mover as peças, “até mesmo aqueles cavalinhos pequenos”, ou quando ela classifica uma das pinturas mais famosas de Van Gogh como “realmente muito mal feita”, é o motor da comédia.

Um dos únicos momentos em que um dos especialistas cruza a linha do desconforto ocorre com Bryan Cox, professor de Física de Partículas na Universidade de Manchester. Depois de encarar afirmações absurdas, do tipo que espelhos seriam um milagre porque não deveriam funcionar de acordo com a física quântica, o professor responde com um seco “sim” ao ser questionado se a entrevista seria uma perda de tempo.

Tradução da Netflix ajuda, mas piadas são mais bem aproveitadas em inglês

De resto, A Vida por Philomena Cunk mantém o viés claramente herdado de clássicos do humor britânico, como o grupo Monty Python. O estilo deadpan, no qual a atriz Diane Morgan não expressa qualquer reação mesmo quando fala as maiores abobrinhas, é ainda mais bem aproveitado no original em inglês – a tradução é muito bem feita, mas algumas das piadas são intraduzíveis para o português.

A comediante sustenta a personagem como uma “jornalista investigativa” que não entende nada do que pergunta, mas fala com uma confiança inabalável. Essa entrega é o coração da série: sem risos, sem piscadelas para a câmera, apenas a seriedade absurda que deixa os entrevistados desconcertados.

A Vida por Philomena Cunk é mais do que um especial engraçado: é um espelho da nossa era de desinformação, onde a ignorância confiante muitas vezes fala mais alto que o conhecimento. Diane Morgan, com sua entrega impecável, mantém viva a tradição do humor britânico, provando que o nonsense ainda é uma das formas mais afiadas de crítica.

  • A Vida por Philomena Cunk
  • 2025
  • 71 minutos
  • Recomendada para mairoes de 16 anos
  • Disponível na Netflix

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