A criação de uma Unidade de Conservação Federal na divisa entre o Paraná e Santa Catarina foi a pauta de uma reunião, realizada nesta terça-feira (25), entre representantes nacionais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o deputado estadual Goura (PDT) e o secretário estadual do Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca.
A reunião faz parte de diversas discussões que deverão ser realizadas com os governos, poderes públicos locais e a população, a fim de promover um processo amplo, tecnicamente preciso e transparente.
A intenção de criar um mecanismo de potencialização da vocação turística e de proteção ambiental daquele território, que abrange parte dos municípios de Joinville, Campo Alegre e Garuva, em Santa Catarina, e Tijucas do Sul e Guaratuba, no Paraná, não é recente. Em 1995, a Câmara de Vereadores de Joinville, visionária quanto ao desenvolvimento turístico e ambiental do município, solicitou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) a criação de uma Unidade de Conservação na região.
Mas somente em 2024 o deputado Goura, juntamente com o deputado estadual Marquito (PSol), de Santa Catarina, com base em demandas locais de potencialização turística e de preservação dos recursos biológicos e hídricos, retomaram a discussão e apresentaram a proposta de criação de um Parque Nacional nos Campos do Quiriri e Araçatuba à ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Sinalização positiva
O secretário Rafael Greca, demonstrando visão estratégica de futuro ambiental e econômico para os municípios do lado paranaense, além de sugerir que os estudos técnicos deveriam ser ampliados no sentido do litoral, afirmou que o projeto tem total apoio da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e do Governo do Paraná, pois trará uma série de benefícios econômicos, sociais e ambientais à população.
O secretário elogiou o projeto e destacou que é necessário trabalhar na perspectiva de que a conservação também gera riquezas. “Todo parque do Brasil é um lugar a mais que se preserva para as crianças que vão nascer”, afirmou.
Na semana passada, o deputado Goura também conversou com o prefeito de Tijucas do Sul, José Altair Moreira, o Gringo, sobre a criação do Parque Nacional. O prefeito se mostrou entusiasmado com a proposta e assegurou apoio ao projeto.
Objetivos
De acordo com a proposta que já está sendo estudada pelo ICMBio, a Unidade de Conservação teria cerca de 32.695,66 hectares no bioma Mata Atlântica, principalmente nas partes altas das respectivas serras, que atualmente já são protegidas por diversas leis ambientais.
Além disso, os estudos conduzidos por técnicos capacitados e renomados, seja do ICMBio ou de universidades, seguem critérios rígidos com o objetivo de incluir áreas de relevante interesse ambiental e, ao mesmo tempo, excluir áreas mais antropizadas, ou seja, com presença de moradores dentro da área de abrangência da Unidade de Conservação.
O deputado Goura ressaltou que a região é um patrimônio natural de grande relevância e que, por envolver dois estados, justifica-se a criação de uma Unidade de Conservação Federal, de gestão nacional.
“É uma proposta bastante necessária para a preservação desse ambiente tão rico em biodiversidade, com campos de altitude e as montanhas da Serra do Mar, que englobam Monte Crista, em Santa Catarina, e a Serra do Araçatuba, no Paraná, e que seguramente trará grandes benefícios econômicos e serviços ambientais para a região”, observou Goura.
A área também abriga grande diversidade de atributos culturais, como caminhos históricos de acesso ao planalto, a exemplo do Caminho dos Ambrósios, o que fortalece o potencial para o turismo de natureza, de base comunitária e rural.
Nas últimas semanas, equipes técnicas do Instituto realizaram visitas técnicas a pontos específicos, aprimorando a análise da área em questão. No entanto, estudos com base em dados secundários (publicações científicas, reuniões técnicas, aspectos fundiários e econômicos, imagens de satélite, entre outros) já vêm sendo realizados desde o início do processo, a fim de avaliar sua viabilidade ambiental, socioeconômica, fundiária e territorial.
Segundo a equipe técnica do ICMBio, esta é a fase analítica que precede a etapa de participação pública, quando a proposta é levada à consulta local e nacional, com o objetivo de aprimorar ainda mais o conhecimento sobre a área e promover os ajustes necessários.
A equipe técnica ressalta que se trata de uma região de grande relevância para o bioma Mata Atlântica, com áreas estratégicas para recarga hídrica, espécies endêmicas, raras e ameaçadas, e que, diferentemente de outros parques, já nasce com o turismo estabelecido e próxima a centros estruturados, o que não é comum.
Mobilização e consulta pública
Ao longo deste ano, o ICMBio e a equipe técnica de apoio realizaram levantamentos para a análise das questões ambientais, socioeconômicas, fundiárias e territoriais da região, a fim de construir uma proposta tecnicamente robusta e adaptada à realidade local.
A etapa em andamento consiste nas reuniões setoriais com governos e prefeituras e na realização das consultas públicas, previstas para o primeiro trimestre de 2026.
Durante essa fase consultiva, será apresentada à população uma primeira proposição consolidada, a partir dos subsídios técnicos e dos diálogos ocorridos ao longo de todo o processo. O objetivo da consulta é garantir publicidade, transparência e participação social na construção da proposta.
Entre os principais apoiadores técnicos da iniciativa destacam-se a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Corpo de Socorro em Montanha (COSMO), a Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS), a Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação, bem como o Observatório Justiça e Conservação (OJC).
Combate às fake news e à disseminação de informações incorretas
Em todo o mundo, a criação de um Parque Nacional é motivo de orgulho, preservação dos recursos naturais e manutenção de serviços ecossistêmicos, associados principalmente à quantidade e à qualidade da água e à regulação do clima.
No Brasil, não é diferente, especialmente quando se trata de regiões com alto potencial paisagístico e, consequentemente, turístico e econômico, como é o caso das serras do Quiriri, Araçatuba e seu entorno, onde essas bases já estão consolidadas.
Existem estudos amplamente divulgados e testados na prática que indicam que cada real investido em Unidades de Conservação pode gerar retorno econômico significativo para os municípios e para a economia nacional como um todo. Esses levantamentos apontam que o retorno pode chegar a até sete reais para cada real investido, principalmente por meio do turismo, dos serviços ecossistêmicos e das cadeias produtivas sustentáveis, além de outros benefícios econômicos e fiscais para os municípios.
No entanto, infelizmente, pessoas mal informadas repassam dados distorcidos, com pouca ou nenhuma base técnica, contribuindo para a disseminação de informações falsas e afastando os interessados da real discussão e dos benefícios de projetos como o que está sendo apresentado à população.
Nesse contexto, surgem fake news que podem gerar insegurança na população, com afirmações sobre demolição de casas, remoção de moradores, perda de recursos municipais e inexistência de diálogo com a sociedade. O processo de criação de uma Unidade de Conservação, contudo, é franco e transparente e garante espaços para o diálogo construtivo.
Por fim, ressalta-se que o processo de criação de um parque é amplamente debatido com a sociedade e, especialmente, com as comunidades envolvidas. A equipe técnica responsável pelos estudos informa que não há moradores dentro do polígono sugerido e que aqueles que residem no entorno, na chamada zona de amortecimento, permanecerão em suas casas e terão seus empreendimentos, principalmente turísticos, beneficiados pela proximidade com uma unidade de conservação de caráter turístico.




