A startup alemã Black Forest Labs arrecadou sem alarde mais de US$ 450 milhões (R$ 2,4 bilhões) desde sua fundação no ano passado, enquanto emergiu como um dos principais desenvolvedores mundiais de geração de imagens por inteligência artificial.
O grupo fundado na cidade de Freiburg triplicou seu valor de mercado em pouco mais de um ano para US$ 3,25 bilhões (R$ 17,33 bilhões) em sua última rodada de financiamento de US$ 300 milhões (R$ 1,6 bilhão). O capital financiará seu plano de competir com Google e ByteDance, dono do TikTok, em um mercado que promete revolucionar indústrias, da publicidade a Hollywood.
Enquanto outros líderes de startups de IA, como Sam Altman da OpenAI, buscaram os holofotes, o cofundador e CEO da Black Forest, Robin Rombach, afirmou ao Financial Times que prefere “deixar o produto falar por si mesmo”.
Em apenas 15 meses, o grupo já fechou um acordo lucrativo com a Meta, além de parcerias com criadores de ferramentas criativas como Adobe e Canva. Rombach comentou que planeja usar o novo investimento para impulsionar sua infraestrutura computacional e expandir a equipe comercial.
A Black Forest é uma das poucas empresas europeias desenvolvendo seus próprios modelos de IA, ao lado da francesa Mistral. Rombach afirmou que ter sede fora do “super hype” de San Francisco —onde empresas de IA disputam profissionais com ofertas salariais enormes— é “a melhor coisa que fizemos até agora”, pois ajuda a equipe a permanecer “super focada”.
Sua captação de recursos ocorre em um momento em que a demanda por sistemas de IA para edição de imagens explodiu no último ano, impulsionada por grandes avanços na tecnologia.
Muitos pesquisadores de IA acreditam que os modelos Flux da Black Forest já concorrem com os sistemas de imagem Nano Banana, do Google, e Seedream, da ByteDance, apesar de ambos terem maiores recursos computacionais, milhares de engenheiros e extensas bibliotecas de vídeos do YouTube e TikTok para fornecer dados de treinamento.
Investidores dizem que isso se deve ao conhecimento de Rombach e sua equipe da Black Forest, que anteriormente desenvolveram uma tecnologia revolucionária para geração de imagens conhecida como Stable Diffusion.
“No verão de 2022, quando a internet explodiu com geração de imagens hiper-realistas, isso foi em grande parte resultado do trabalho deles”, comentou Nathan Benaich, investidor inicial da Black Forest na Air Street Capital.
Anos antes, Rombach conheceu a equipe, que mais tarde se tornaria seus cofundadores, enquanto estudavam para seus doutorados na LMU Munich e na Universidade de Heidelberg. Eles publicaram uma série de artigos de pesquisa focados na técnica de IA de “difusão latente”, que Rombach descreveu como “basicamente a base para muita da tecnologia [de IA generativa] que está sendo construída neste espaço”.
Ele observou que o equipamento computacional limitado de sua universidade forçou ele e seus colegas a inovar. “Estávamos operando com GPUs super pequenas em hardware de nível de consumidor”, disse. “Para obter um desempenho realmente bom com isso, tivemos que criar um algoritmo mais eficiente.”
O impulso inicial com a comunidade acadêmica e de pesquisa estimularam Rombach a escalar a tecnologia para uso comercial, juntando-se à startup inglesa Stability AI ao lado de outros pesquisadores de IA da LMU e Heidelberg em 2022.
“Poucas pessoas no mundo sabem como avançar a fronteira dos modelos gerais de [IA]. Robin e sua equipe, como inventores da difusão latente, têm essa vantagem”, disse Anjney Midha, sócio de risco da Andreessen Horowitz, cuja nova empresa AMP liderou conjuntamente o último financiamento da Black Forest ao lado da Salesforce Ventures.
Mas depois que a Stability AI enfrentou dificuldades, Rombach e vários de seus colegas saíram em 2024 para fundar a Black Forest. Rapidamente levantaram financiamento de investidores, incluindo Andreessen Horowitz e General Catalyst.
Jeannette zu Fürstenberg, que lidera os negócios europeus da General Catalyst, destacou que permanecer em Freiburg ajudou a startup a se manter “com os pés no chão”. “É um grupo muito distinto de pessoas”, disse.
O que começou como uma equipe de cerca de 10 pessoas agora cresceu para 50 funcionários em tempo integral, principalmente em Freiburg, com uma presença crescente em San Francisco.
Rombach disse que lançar algumas versões de seu modelo Flux sob uma licença de “código aberto”, o que significa que podem ser usadas e modificadas livremente para certas aplicações, tem sido vital para conquistar desenvolvedores e dar aos clientes mais controle sobre seus dados e propriedade intelectual. O custo para desenvolvedores acessarem o Flux também é significativamente mais barato que o Nano Banana, do Google.
As melhorias no mais recente modelo Flux incluem a preservação das semelhanças dos indivíduos enquanto a tecnologia de IA os coloca em situações realistas ou imaginárias, além de combinar várias imagens diferentes para criar uma nova.
Uma pessoa que trabalhou com membros da equipe da Black Forest alertou que, embora o pequeno tamanho da startup lhe dê uma vantagem fundamental em velocidade, ela pode carecer de uma vantagem técnica de longo prazo. De acordo com ela, é difícil no setor de IA generativa sobreviver em um pequeno laboratório.
Investidor inicial, Michael Ovitz —cofundador da Creative Artists Agency— ajudou Rombach e sua equipe a fazer conexões em Hollywood, mesmo que muitos estúdios ainda estejam cautelosos com ferramentas de IA após a greve dos roteiristas de 2023.
“Tratamos a propriedade intelectual como uma questão bastante séria”, disse Rombach. “Nosso objetivo é trabalhar com criadores e criativos para aumentá-los e ajudá-los a criar algo novo, não substituir algo que já existe”, comentou.




