terça-feira, dezembro 2, 2025

Gilberto Gil é onipresente em cruzeiro com Gilsons – 02/12/2025 – Ilustrada

Gilberto Gil está em todos os lados no cruzeiro do qual ele é a atração principal, o Navio Tempo Rei. O baiano se apresenta somente nesta terça (2) e na quarta (3), mas ele e sua obra já estão em todos os cantos da embarcação —em pôsteres, totens, no som ambiente e até mesmo no palco— desde esta segunda (1°).

O Navio Tempo Rei, parte da turnê de despedida de um dos grandes nomes da música popular brasileira, faz o percurso de Santos ao Rio de Janeiro entre segunda e quinta (4). O barco deixou o porto pouco depois das 18h, quando teve início a programação no cruzeiro. O primeiro dia teve shows dos Gilsons, Nando Reis e Jorge Vercilo.

A estrutura do navio, com 18 andares, conta com piscinas, teatro, cassino, cinema, academia e diversas opções de bares e restaurantes. A embarcação, imensa, lembra um hotel nas cabines, mas é fácil se perder nos labirintos de corredores que levam às atrações.

Fora mais de 1.000 pessoas na tripulação, o cruzeiro comporta cerca de 4.000 pessoas, e está praticamente cheio. As crianças nadavam e brincavam nas piscinas mesmo durante os shows, que acontecem num palco montado no último andar, com mezaninos que abrigam camarotes e espaços VIP.

Os Gilsons, trio formado por um filho, José, e dois netos, Francisco e João, de Gilberto Gil, abriram a programação do cruzeiro. Eles tocaram ao pôr do sol, enquanto o navio deixava a cidade de Santos e algumas pessoas ficavam em dúvidas se olhavam para o palco ou para o cenário ao lado.

A plateia é naturalmente formada por pessoas de classes mais altas —as cabines custam a partir de R$ 4.698 por pessoa, fora os custos com alimentação, bebida e outras despesas. Muita gente não conhecia o repertório da banda.

Os Gilsons mostraram o repertório do EP que lançaram em 2019 e de seu único disco de estúdio, de 2022, com canções de MPB suaves e bem executadas. O repertório incluiu “Algum Ritmo”, “Devagarinho”, “Alecrim” e “Love Love”, que acumulam dezenas de milhões de reproduções no streaming, e um cover de “Swing de Campo Grande”, dos Novos Baianos.

Mas a plateia só reagiu quando na reta final, quando puxaram seu maior hit, uma versão em ritmo de ijexá de “Várias Queixas”, gravada originalmente pelo Olodum. Eles ainda cantaram dois sambas — “Eu e Você Sempre”, de Jorge Aragão, e “Alguém me Avisou”, de Dona Ivone Lara— antes de evocar o patriarca Gilberto Gil.

Francisco Gil lembrou-se da mãe, Preta Gil, morta neste ano, que teve o nome cantado pelo público, e começou a performance de “Palco”. A música foi um aviso do motivo de todos estarem ali —o navio parecia estar balançando mais que o normal conforme o público dançava e cantava a música de Gil.

O tropicalista é de fato onipresente na embarcação. Além de totens e de suas imagens, ele é lembrado pelos mestres de cerimônia —um deles é Eri Johnson— e suas músicas tocam exaustivamente nos elevadores, corredores, espaços de lazer e restaurantes.

“Ela é uma das nossas maiores referências”, disse Francisco nos bastidores do evento, depois do show, sobre a mãe. “O pessoal fala muito sobre a pressão, sobre defender um legado, mas a verdade é que a gente aprendeu muito com a geração dela, com o que ela fez —não só de estrada ou musicalmente, mas a nossa realidade e como as coisas funcionam dentro dessa família.”

Antes de subir ao palco Nando Reis disse à Folha que, através de Gil, conseguiu quebrar um paradigma —de que compor não era algo extraordinário, um requinte distante da vida. “Não essa distância [da vida], você não precisa ser uma pessoa de fora.”

Ele lembra de assistir ao show de Gil com a turnê “Luar”, em 1981, no antigo Sesc Pixinguinha —hoje Sesc Consolação. No andar debaixo da apresentação, ele disse, havia uma apresentação de fotos em que o tropicalista aparecia jogando futebol.

“Tive uma espécie de epifania ali, falei, ‘caramba, o Gil joga bola'”, Nando afirmou. “Ele até então era um ser extraterrestre. Pensei, ‘se ele joga bola, talvez eu possa tocar. Ele é humano.’ É, mesmo aquilo sendo excepcional, conseguir identificar características básicas —humanas.”

Nando depois fez um show inteiro dedicado a seus hits —conhecidos em sua voz ou na de outros cantores. Assim foi com “Dois Rios” e “Resposta”, famosas com o Skank, “Segundo Sol”, “Relicário” e “Luz dos Olhos”, com Cássia Eller, e “Onde Você Mora”, com o Cidade Negra.

Foi uma apresentação que ressaltou o lado compositor de hits de Nando Reis, que leu o ambiente onde estava. Ele não cantou para uma plateia de fãs, e mostrou quase sem pausa sua obra mais conhecida —incluindo ainda canções da época de Titãs, como “Marvin” e “Cegos do Castelo” e sucessos solo, como “Pra Você Guardei” e “Por Onde Andei”.

O show foi marcado por ventanias fortes conforme o navio cruzava o mar, e alguns pingos de chuva chegaram a cair na embarcação. Mas nada que tenha atrapalhado as milhares de pessoas no palco principal do Navio Tempo Rei.

Ao fim da apresentação, Nando saiu do palco ao som de um remix em EDM (electronic dance music) de “Anunciação”, de Alceu Valença. O mestre de cerimônias ainda lembrou aos presentes que o navio tinha um cassino e um bingo —além de uma festa que correu madrugada adentro.

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