A maioria dos paulistanos recorre a clínicas privadas para consultas e procedimentos odontológicos, enquanto uma parcela menor utiliza o SUS (Sistema Único de Saúde). Dados recentes do ISA Capital (Inquérito de Saúde da Cidade de São Paulo) mostram que, entre as 5.472 pessoas entrevistadas, 38,3% consultaram um dentista nos últimos seis meses. Destas, 67,6% pagaram pela consulta e 15,9% foram atendidas pelo sistema público.
Dos participantes, 58,7% avaliaram a saúde bucal como boa e 21,7% como regular. A população idosa apresentou a menor proporção de avaliações muito boas (8,5%). O principal motivo para procurar atendimento foi consulta periódica ou de rotina (47,4%).
Os primeiros resultados do ISA Capital 2024 foram divulgados pela SMS (Secretaria Municipal da Saúde) em outubro deste ano. Desenvolvida em parceria com a Faculdade de Saúde Pública da USP, a pesquisa investiga o estado de saúde, os hábitos de vida e o uso dos serviços de saúde da população paulistana.
Esta é a quarta edição do inquérito, realizado também em 2003, 2008 e 2015. Entre agosto de 2023 e dezembro de 2024, foram feitas 5.472 entrevistas com moradores do município, abrangendo quatro públicos: adolescentes (10 a 19 anos), adultos de 20 a 59 anos, mulheres e homens, e idosos (60 anos ou mais).
Como a coleta se estendeu até dezembro de 2024, os períodos de referência —como “últimos seis meses” ou “últimos 12 meses”— correspondem ao intervalo imediatamente anterior à data em que cada pessoa foi entrevistada.
A SMS afirma que o atendimento odontológico está disponível em 444 das 479 UBS (Unidades Básicas de Saúde) da capital paulista. O acesso pode ser presencial ou pelo aplicativo Agenda Fácil, que disponibiliza vagas para triagem.
Após avaliação de risco, o cirurgião-dentista agenda o tratamento quando necessário. Casos que exigem atenção especializada são encaminhados pelo Siga Saúde (Sistema Integrado de Gestão da Assistência em Saúde), com possibilidade de acompanhamento do agendamento pelo aplicativo.
Situações urgentes são atendidas nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e em outras unidades com pronto atendimento. A unidade mais próxima com serviço odontológico pode ser consultada no site da prefeitura, no Busca Saúde.
Na atenção básica, são oferecidos procedimentos preventivos, clínicos, restauradores, cirúrgicos e protéticos, segundo a prefeitura. Os serviços especializados incluem ortodontia, endodontia, estomatologia, cirurgia oral menor, periodontia, odontopediatria, dor orofacial, implantes, próteses, atendimento a pessoas com deficiência e procedimentos sob anestesia geral nos hospitais dia.
Questionada sobre o tempo médio de espera para consultas e procedimentos bucais, a prefeitura não respondeu.
No país, o Ministério da Saúde afirma que a saúde bucal é uma das prioridades do SUS, com 35 mil equipes de saúde bucal em 5.282 municípios. Os 1.238 Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs) realizaram 6,4 milhões de atendimentos em 2023 e 8,4 milhões em 2024.
Coordenadora do estudo, a professora Marília Louvison, da Faculdade de Saúde Pública da USP, destaca que a oferta de serviços odontológicos no SUS ainda não atende à demanda.
“O SUS oferece odontologia, mas a oferta não acompanha a necessidade. É uma área historicamente subdimensionada.”
Aumento de doenças crônicas é desafio de saúde pública
O ISA Capital também aponta aumento nos diagnósticos de doenças crônicas não transmissíveis. Entre setembro de 2024 e setembro de 2025, foram registrados 114.742 novos diagnósticos de hipertensão e 80.165 de diabetes tipo 2 na Atenção Primária da rede municipal. Ao todo, há 1.832.597 pessoas com hipertensão e 892.637 com diabetes na cidade, de acordo com a SMS.
Os dados mostram que 11% dos moradores com mais de 20 anos afirmaram ter diabetes tipo 2—ante 7,7% em 2015, 6,4% em 2008 e 4,7% em 2003. Entre os idosos, a prevalência chega a 28,2%.
Quanto à hipertensão, 26,3% dos entrevistados com mais de 20 anos relataram diagnóstico, ante 23,2% em 2015, 21,7% em 2008 e 17% em 2003. Entre os maiores de 60 anos, 58,5% afirmaram ser hipertensos.
“As doenças agudas são minoria. O que mais cresce são condições que acompanham a pessoa ao longo da vida. E, para isso, nosso sistema ainda não está totalmente preparado”, afirma Louvison.
Para o secretário municipal da Saúde, Luiz Carlos Zamarco, a nova edição do inquérito oferece um retrato atualizado das condições de vida e adoecimento após os impactos da pandemia. Segundo ele, as doenças crônicas predominam em todas as regiões da cidade, com pequenas variações, e esse cenário orienta o planejamento da pasta para reorganizar equipes, ampliar especialidades e redistribuir serviços conforme a demanda.
“O inquérito vai mostrar onde precisamos ajustar a rota”, afirma.
O estudo também avaliou o estado nutricional da população com 20 anos ou mais, medido pelo IMC (Índice de Massa Corporal). Entre adultos, 35,7% estavam com sobrepeso, 26,9% eram obesos, 34,8% estavam eutróficos e 2,5% tinham baixo peso.
Entre idosos, a proporção de baixo peso é maior (21,8%), e o sobrepeso é menos frequente (11,8%). A obesidade aparece em níveis semelhantes nos dois grupos: 28,4% entre idosos e 26,9% entre adultos.
A saúde mental também foi destaque da pesquisa. Um em cada seis paulistanos apresenta sintomas de transtorno mental (17% da população), com maior impacto entre mulheres.
O projeto Saúde Pública tem apoio da Umane, associação civil que tem como objetivo auxiliar iniciativas voltadas à promoção da saúde.




