quarta-feira, dezembro 3, 2025

Starbucks pesquisa café resistente às mudanças climáticas – 03/12/2025 – Café na Prensa

O mundo ainda terá café arábica de qualidade daqui a 50 anos?

“Sim”, responde, de forma contundente, Ricardo Arias-Nath, vice-presidente e chefe da operação mundial de café da Starbucks. “É a nossa missão. É um trabalho de casa que nós temos que fazer”, afirma.

O executivo fala diretamente do local que é considerado o centro dos esforços da companhia para alcançar esse objetivo. A sala com vista para as montanhas parcialmente cobertas pela neblina fica na fazenda Alsacia, a quase 1.700 metros de altitude, na província de Alajuela, na Costa Rica.

O local abriga o laboratório de pesquisas agronômicas em que a gigante norte-americana –com mais de 40 mil cafeterias distribuídas em mais de 80 países– tenta desenvolver técnicas e variedades capazes de enfrentar as mudanças climáticas. Com 240 hectares, sendo 170 com café, a fazenda Alsacia é o polo mundial de pesquisa da Starbucks.

Lá, a empresa tem uma coleção genética com quase 200 variedades diferentes de café, e faz cruzamentos entre elas a fim de criar cultivares que consigam apresentar qualidade sensorial e resistência a pragas e aos efeitos das mudanças climáticas.

O principal responsável por esse laboratório é o agrônomo Carlos Mario Rodriguez, diretor global de pesquisa e desenvolvimento, que tem décadas de experiência no aperfeiçoamento de cultivares de café.

Ele afirma que a criação dessa coleção genética tem como objetivo criar novos híbridos e disseminar essas novas variedades entre produtores de várias regiões –a Starbucks atualmente compra café de cerca de 400 mil fazendas em 30 países.

“Como parte do processo de seleção, estamos procurando um bom sistema de raízes que possa absorver água e nutrientes de uma forma mais eficiente, e isso terá um grande benefício, por exemplo, em condições secas”, diz Rodriguez.

Como se sabe, a crise do clima afeta fortemente o cultivo de café, sobretudo aquele da espécie arábica, de sabor mais suave e também mais sensível às variações climáticas. Isto porque a planta depende de condições muito específicas, como temperaturas amenas e sem grandes oscilações. Eventos extremos, como geadas, secas ou chuvas em excesso –que devem se intensificar como consequência do aumento da temperatura do planeta– são ameaças perigosas para a cafeicultura.

Por isso, estima-se que até 50% das áreas atualmente cultiváveis –não efetivamente cultivadas, mas que têm clima propício para o cultivo de café– serão perdidas por causa da mudança climática.

Um dos principais pilares das pesquisas conduzidas na fazenda Alsacia é que as descobertas e variedades desenvolvidas sejam compartilhadas, em um esforço de colaboração pré-competitiva da Starbucks.

Em 2024, a empresa doou 2,5 toneladas de sementes para cafeicultores de vários países. Para disseminar esses materiais, a Starbucks usa os dez centros de apoio aos fazendeiros que tem ao redor do planeta. Um deles fica em Varginha, no sul de Minas Gerais, principal polo da cafeicultura brasileira.

Uma das principais apostas da cafeicultura para tentar combater as mudanças climáticas é a adoção de manejos regenerativos. De modo geral, a agricultura regenerativa é baseada em práticas de conservação e regeneração do solo, da água e da biodiversidade, a fim de emitir menos gás carbônico do que as técnicas consideradas tradicionais.

A Starbucks sabe da importância das práticas regenerativas para o futuro do planeta, e faz, em parte, sua lição de casa. Na fazenda Alsacia, pés de café dividem espaço com árvores frutíferas e mata nativa.

Apesar disso, a empresa não premia financeiramente os cafeicultores parceiros que adotam agricultura regenerativa, diferentemente do que fazem algumas companhias do setor. A Nespresso, por exemplo, paga um percentual a mais para os fornecedores que adotarem práticas regenerativas.

Em vez disso, a empresa aposta na capacitação e apoio aos fazendeiros. Nesse quesito, os cafeicultores do Brasil são tanto aprendizes quanto mentores, segundo Ritesh Sharan, diretor global dos centros de apoio aos fazendeiros.

“Estamos aprendendo com agricultores brasileiros tanto quanto compartilhamos o conhecimento com eles. No ano passado, enviamos nossos gerentes da Guatemala e da Costa Rica para o Brasil, para aprender com os grandes agricultores que estão seguindo muitas práticas regenerativas, usando compostagem, micro-organismos e coisas assim”, diz Sharan.

Apostar em pesquisa e práticas regenerativas é, afinal, uma questão de sobrevivência para a cafeicultura e para empresas que dependem dela, como a Starbucks.

É para garantir o futuro do café –e, consequentemente, o futuro da Starbucks– que a empresa investe em pesquisa e compartilhamento de informações.

“É uma necessidade”, diz Arias-Nath, o vice-presidente global. “Eu quero fazer com que meus filhos –e os filhos deles– possam aproveitar uma incrível xícara de café arábica. É por isso que fazemos tudo que fazemos”.

E porque se não há café, não há Starbucks.

O jornalista viajou a convite da Starbucks.


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