A Airbus informou nesta sexta-feira (28) que está determinando uma mudança imediata de software em um “número significativo” de jatos da família A320, seu modelo mais vendido. A medida, segundo fontes do setor ouvidas pela Reuters, deve impactar metade da frota global.
O comunicado da montadora europeia relatou um incidente recente envolvendo uma aeronave da família A320 que revelou que radiação solar intensa pode corromper dados críticos para o funcionamento dos controles de voo.
De acordo com boletim enviado às companhias aéreas e visto pela agência Reuters, a mudança precisa ser feita antes do próximo voo das aeronaves, o que ameaça provocar cancelamentos ou atrasos em um dos fins de semana de viagem mais movimentados do ano nos Estados Unidos e em outros países.
“A Airbus reconhece que essas recomendações levarão a interrupções operacionais para passageiros e clientes”, afirmou.
Fontes do setor disseram que o incidente que motivou a ação de reparo envolveu um voo da JetBlue de Cancún, no México, para Newark, em Nova Jersey, em 30 de outubro, no qual vários passageiros ficaram feridos após uma queda brusca de altitude.
O voo 1230 fez um pouso de emergência em Tampa, na Flórida, após um problema no controle de voo e uma perda repentina e não comandada de altitude, levando a uma investigação da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA).
JetBlue e FAA não comentaram de imediato.
A Agência Europeia para a Segurança da Aviação deve emitir uma diretriz de emergência tornando o reparo obrigatório, disse a Airbus.
Para cerca de dois terços das aeronaves afetadas, o recall resultará em uma paralisação relativamente curta, já que as companhias devem reverter o software para uma versão anterior, segundo fontes do setor.
Ainda assim, isso acontece em um momento de forte demanda sobre as oficinas de manutenção das companhias aéreas, já pressionadas pela falta de capacidade e pela paralisação de centenas de jatos da Airbus devido à longa espera por reparos ou inspeções de motores.
Centenas dos jatos afetados também podem precisar de troca de hardware, o que implica esperas muito mais longas, disseram as fontes. Cerca de 3.000 aviões da família A320 estavam no ar no mundo pouco depois do anúncio da Airbus.
American Airlines e a húngara Wizz Air disseram já ter identificado quais de suas aeronaves precisarão da correção de software. A United Airlines afirmou não ter sido impactada.
A American, em comunicado, disse que cerca de 340 de seus 480 A320 necessitam da substituição do software e que espera concluir a maior parte desses reparos “hoje e amanhã”, com cerca de duas horas necessárias por avião.
Há cerca de 11.300 aeronaves da família A320 em operação, incluindo 6.440 do modelo A320 básico, que voou pela primeira vez em 1987.
O contratempo parece estar entre os maiores recalls em massa que afetam a Airbus em seus 55 anos de história e ocorre semanas depois de o A320 superar o Boeing 737 como o modelo mais entregue do mundo.
O A320 foi o primeiro jato comercial de grande porte a introduzir controles computadorizados “fly-by-wire”.
O boletim visto pela Reuters atribui o problema a um sistema de voo chamado ELAC (Elevator and Aileron Computer), que envia comandos do manche lateral do piloto aos profundores na cauda. Esses, por sua vez, controlam o ângulo de arfagem ou da ponta do nariz da aeronave.
O fabricante do computador, a francesa Thales, disse em resposta à Reuters que o equipamento atende às especificações da Airbus e que a funcionalidade em questão é suportada por um software que não está sob responsabilidade da empresa.




