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Anéis são o feijão com arroz do Sistema Solar exterior – 19/10/2025 – Mensageiro Sideral

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Um grupo internacional de astrônomos com liderança brasileira acaba de confirmar a existência de anéis em Quíron, um objeto pertencente à classe dos centauros –astros que populam a região entre as órbitas de Júpiter e Netuno–, e constata que o sistema por lá está em plena evolução, indicando a possível formação de novos anéis.

Já se sabe há décadas que os quatro planetas gigantes (séculos, no caso de Saturno) têm sistemas de anéis, mas a ideia de que corpos menores pudessem tê-los também é relativamente nova. A primeira descoberta do tipo foi feita em 2014 por uma equipe liderada por Felipe Braga Ribas, da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), em torno de Cáriclo, o maior de todos os centauros conhecidos, com uns 250 quilômetros de diâmetro.

Então, imaginava-se que tal situação pudesse ser incomum, mas novas descobertas desde então parecem reforçar a ideia de que na verdade sistemas de anéis são meio que o feijão com arroz do Sistema Solar exterior. Em 2017, foi descoberto que o planeta anão Haumea, localizado bem além da órbita de Netuno, também tinha anéis. Em 2023, o mesmo foi constatado para Quaoar, outro desses objetos transnetunianos de grande porte. Agora, os novos resultados indicam que Quíron também tem um sistema de anéis.

É uma desconfiança que já existia, confirmada agora pelo trabalho recém-publicado no Astrophysical Journal Letters, que tem como primeiro autor Chrystian Luciano Pereira, pesquisador do Observatório Nacional (ON) e do Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LIneA), com participação de Ribas.

O estudo faz uso de ocultações estelares, a mesma técnica que permitiu a descoberta dos anéis dos outros planetas menores (como são genericamente designados todos os objetos que orbitam o Sol, mas não são planetas). Pela distância e o porte desses objetos, é impossível, com a tecnologia atual, visualizar os anéis. O que se pode fazer é observar o astro transitando à frente de estrelas mais distantes, bloqueando temporariamente a luz delas. Ao monitorar cuidadosamente essas ocultações, é possível detectar, pelo “pisca-pisca”, não só o objeto em si, mas também estruturas que existam em seu entorno.

Foi assim que Pereira e colegas descobriram que Quíron possui um sistema complexo composto de três anéis distintos, inseridos em um amplo disco de material. As principais observações foram feitas durante uma ocultação estelar em 10 de setembro de 2023, por uma rede de telescópios espalhada pelo mundo, dos quais se destacaram os dados colhidos no Observatório do Pico dos Dias, em Minas Gerais.

A eles se juntaram outros dados colhidos em 2011, 2018 e 2022, para revelar com clareza não só os três densos anéis, localizados a 273, 325 e 438 km do centro do objeto, como também um disco de material mais difuso que se estende por centenas de quilômetros e uma nova estrutura tênue a quase 1.400 quilômetros de distância.

Tornando tudo ainda mais interessante, a comparação das observações ao longo do tempo sugere que o disco de material difuso é novo, formado na última década, possivelmente resultado de uma grande ejeção de material que Quíron teria sofrido em 2021. Não é difícil imaginar que os astrônomos estejam observando, em tempo real, o processo de formação de novos anéis –uma oportunidade incrível para estudar como o Sistema Solar exterior prepara seu feijão com arroz.

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