sexta-feira, novembro 28, 2025

Atos pós-prisão de Bolsonaro ganham força sob temor do STF

Apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) preparam para este domingo (30) a primeira manifestação desde a prisão do ex-presidente, no último sábado (22), após o trânsito em julgado da condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Embora os organizadores reforcem o caráter “pacífico, cívico e familiar” da mobilização, manifestantes admitem temor de eventual reação do Judiciário, em meio ao endurecimento do tribunal contra os discursos considerados antidemocráticos.

Organizado pelo movimento Influenciadores do Brasil, o ato principal vai acontecer em Brasília com a previsão de uma caminhada do Museu Nacional da República até a Catedral Metropolitana, às 14 horas. A programação inclui cantos cívicos, orações e manifestações em defesa da anistia, da liberdade de Bolsonaro, da liberdade de expressão e da valorização da fé cristã.

Diante do temor do STF, os organizadores reforçam que o percurso segue rigorosamente as orientações das autoridades locais — sem qualquer atividade na Praça dos Três Poderes. Presidente do movimento Influenciadores do Brasil, Deusélis Braga André Filho reforçou o caráter pacífico da mobilização. A pauta central será “anistia, liberdade do ex-presidente Bolsonaro e liberdade de expressão”.

“Será um ato pacífico. Vamos caminhar até a Catedral, onde haverá oração e falas de lideranças que vieram de vários estados. É uma demonstração de união. Vamos falar da injustiça no julgamento, da situação dos generais presos e do cerceamento nas redes sociais. Mas não estaremos ali para atacar o STF ou ministros”, disse André Filho à Gazeta do Povo.

Além do ato em Brasília, são esperadas mobilizações em outras capitais, como Rio de Janeiro, em Copacabana; São Paulo, na Avenida Paulista; e em João Pessoa (PB), no Busto de Tamandaré. Os atos nessas cidades também devem ocorrer no domingo, a partir das 14 horas.

“Vamos ter várias outras manifestações diante desse ato absurdo que culminou com a prisão do presidente Bolsonaro em regime fechado. Estamos mobilizados e vamos continuar defendendo nossas bandeiras”, disse Marcelo Queiroga, ex-ministro de Bolsonaro.

Segundo ele, a prisão “somente aumentou a união da direita, que pretende continuar defendendo as bandeiras do ex-presidente Bolsonaro”.

“Não vamos desistir. Não é um estalar de dedos que resolve o problema do Brasil. Precisamos mostrar que não vamos parar”, afirmou André Filho.

Além disso, caminhoneiros articulam uma possível greve nacional no dia 30 de novembro. Grupos nas redes sociais defendem que apenas a pressão popular pode “conter excessos” do Judiciário e exigir que o Congresso vote a anistia para os condenados e investigados pelo 8 de janeiro.

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Temor de retaliações ocorre após Moraes barrar ato na Praça dos Três Poderes

A apreensão dos manifestantes é influenciada por episódios recentes, como a decisão do ministro Alexandre de Moraes, em julho, de proibir acampamentos e obstruções na Praça dos Três Poderes — área considerada de segurança institucional. A medida resultou na retirada de deputados que protestavam no local e se baseou na avaliação de que a movimentação em redes sociais poderia estimular discursos radicais.

A decisão dividiu juristas, mas recebeu apoio de outros ministros, que apontaram o 8 de janeiro como justificativa para maior cautela. Para Rodrigo Augusto Prando, sociólogo e cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), a prisão de Bolsonaro produz efeitos imediatos na temperatura política e no equilíbrio de forças.

“Teremos aumento da tensão entre os atores políticos, tanto bolsonaristas quanto governistas. As redes sociais foram rapidamente mobilizadas após a prisão, e a repercussão cresceu de forma intensa”, disse.

“As instituições — com o STF à frente — não indicam tolerar novos ataques à democracia. As paixões estão afloradas: uns comemoram, outros protestam por entender que há injustiça. O tabuleiro do xadrez político já está sendo movimentado para 2026”, completou.

Em meio a esse cenário, os organizadores reforçam que o ato não passará pela Praça dos Três Poderes, para evitar qualquer conflito com determinações judiciais. O temor dos apoiadores se intensificou após o STF usar a vigília de oração convocada por Flávio Bolsonaro como argumento para converter a prisão domiciliar do ex-presidente em prisão preventiva.

Segundo o ministro Alexandre de Moraes, a vigília poderia criar um “ambiente propício para fuga” e repetir o modus operandi dos acampamentos que antecederam os atos de 8 de janeiro. Moraes também apontou violação da tornozeleira eletrônica e risco de tumulto como justificativas.

A Primeira Turma do STF confirmou a decisão por unanimidade. Juristas criticaram o entendimento, afirmando que houve excesso e desproporção entre o evento religioso e a gravidade das medidas impostas. “A gente só pode agradecer e pedir que as pessoas venham, manifestem o seu apoio e não se calem, não tenham medo, porque eu tenho a convicção de que estamos muito próximos de voltar a ter um país iluminado por Deus, onde essas maldades vão acabar”, disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Atuação preventiva do STF pode tensionar ainda mais o ambiente democrático

A atuação preventiva do Judiciário nos casos envolvendo apoiadores de Jair Bolsonaro tem ampliado tensões políticas e reacendido o debate sobre os limites democráticos da intervenção estatal em manifestações e mobilizações de rua. Para o cientista político Magno Karl, integrante do movimento Livres, esse processo cria um cenário preocupante.

“Depois do 8 de janeiro, o Judiciário age de forma preventiva quando vê algum risco concreto de tumulto. O problema é que manifestações restritivas ao direito de manifestação confrontam diretamente os princípios constitucionais brasileiros. O fracasso do Estado brasileiro em evitar o quebra-quebra em 8 de janeiro de 2023 não deveria servir de justificativa para que o direito de manifestação em favor de qualquer ideia seja cerceado”, explica.

Segundo Karl, a escalada de medidas cautelares, proibições e monitoramentos amplia o conflito entre STF e base do ex-presidente, com impactos que ultrapassam o episódio atual.

Sob forte vigilância do Judiciário, lideranças da direita acabam pressionadas a recalibrar seus discursos e estratégias. Para Magno Karl, essa conjuntura influencia diretamente a reorganização do campo conservador, que precisa conciliar mobilização política, risco permanente de judicialização e até mesmo pensar em sucessão de lideranças.

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