quinta-feira, novembro 27, 2025

Avaliar emoções ajuda a evitar que mal-estar vire doença – 08/11/2025 – Equilíbrio

Nem todo desconforto é insuportável. Algumas situações, mesmo que ruins, vão se adaptando ao dia a dia, e nós vamos nos acostumado a elas. Até que algo extremo aconteça e alerte para a necessidade de mudança.

O sentimento de ansiedade é um importante guia nesse processo. Essa sensação é natural diante do inesperado e do desconhecido, direcionando ao movimento e às mudanças necessárias. O problema é quando vem em excesso, pois torna-se um transtorno e leva a crer ser incapaz de buscar soluções para os problemas (como se “travasse” ou “congelasse” diante das adversidades).

Medo excessivo, desmotivação e humor deprimido indicam ansiedade elevada. A perpetuação desses sintomas leva ao surgimento de quadros psiquiátricos, como depressão e ansiedade. E esse desequilíbrio emocional também deixa rastros na saúde física, como piora no sono, estafa e, se carregado por muito tempo sob alto estresse, influencia no desenvolvimento da dor crônica. Por isso, a ajuda de um profissional da psicologia é importante para validar as inquietações e construir habilidades contra suas consequências.

Permanecer em situações, lugares e ao lado de pessoas desconfortáveis é, muitas vezes, fruto de um comportamento inconsciente, explica a psicanalista Tássia Borges. A vontade de agradar gera atos sem reflexão se aquilo é ou não emocionalmente saudável. “A gente quer evitar o conflito. Essa é uma armadilha a que qualquer um está sujeito”, diz Borges, mestre pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) e fundadora do Instituto Kleiniano de Psicanálise.

A consciência surge por meio do auto compromisso, observa a psicanalista. “Usamos o pretexto do outro, mas, antes de tudo, a gente não admite para nós mesmos o que queremos ou não fazer. Esse movimento de ‘não custa nada’ faz com que a gente não perceba que estamos entrando em um processo de sofrimento psíquico. Quando notamos, a gente já se doou demais para o outro, seja quem for: empresa, família, trabalho.”





Usamos o pretexto do outro, mas, antes de tudo, a gente não admite para nós mesmos o que queremos ou não fazer. Esse movimento de ‘não custa nada’ faz com que a gente não perceba que estamos entrando em um processo de sofrimento psíquico. Quando notamos, a gente já se doou demais para o outro, seja quem for: empresa, família, trabalho

Outro ponto para notar o desconforto é avaliar a rotina. Um dia a dia disfuncional pode indicar o que Borges chama de “desequilíbrio de doação”. Em níveis iniciais, isso se caracteriza pela falta de tempo para cuidar de si e fazer aquilo que se gosta, além das obrigações no trabalho e na família. A longo prazo, porém, a tendência é que a pessoa se veja em uma espiral de desânimo e falta de propósito, que mina a qualidade de vida.

“Pergunte para si mesmo: eu funciono para mim? Essa é uma pergunta balizar. O primeiro passo quando estamos desconfortáveis e desanimados é se esquecer da gente e isso não é percebido de princípio, só é notável a longo prazo na qualidade de vida e na saúde”, orienta a psicanalista.

Direcionar mesmo que poucos minutos do dia para analisar os aspectos da saúde emocional e os pilares da vida ajuda a desvendar o que não vai bem. Esse hábito é essencial, já que é preciso entender qual é o problema antes de tentar mudar algo.

Aliar a auto observação à busca pelo prazer é um recurso importante na criação de rotinas melhores, com benefícios à saúde mental. Esse processo deve ser leve e de descoberta genuína, e não mais um estímulo à produtividade guiado pelo o que a maioria das pessoas está fazendo —um desafio em meio às redes sociais.

“Muitas pessoas perderam o filtro de saber se uma experiência é boa para si, independentemente da idade, porque vivemos em uma cultura de alta performance. O filtro começa a ser o outro, e a gente faz o que todo mundo está fazendo. O ponto é avaliar para aonde você está indo. Se pergunte: eu estou confortável? Porque feliz é uma palavra muito complicada”, afirma Borges.

Dedicar-se às atividades de interesse reduz o sofrimento, pois a pessoa se sente menos dispersa de si: a tensão baixa, e a criatividade aumenta. Uma das consequências é a queda da ansiedade, o que ajuda a resolver problemas e a concretizar mudanças.

Ainda assim, é preciso saber que nenhuma adaptação é vitalícia. Sentir-se confortável não isola o risco de sentimentos ruins surgirem em algum momento.

“Quando falamos sobre inteligência emocional, ou qualquer tipo de inteligência, o básico é a adaptação do indivíduo ao meio. Mas não existe adaptação para sempre, estamos em busca constante do equilíbrio, pois é algo que ocorre na interação indivíduo-ambiente. As mudanças sempre ocorrem”, explica a psicóloga Monalisa Muniz, uma das responsáveis pelo grupo de pesquisa em inteligência emocional da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), em São Paulo.

“Mesmo durante o dia, a gente pode passar por processos e situações que nos demandam agir para a busca do equilíbrio e da readaptação”, diz Muniz.

Nesse contexto, a pessoa com maior inteligência emocional não é aquela que melhor se molda às circunstâncias. Mas a que se organiza com mais rapidez para elaborar os acontecimentos. Ou seja, a que nota o desconforto e lida com ele de maneira emocionalmente responsável. É uma competência que demanda raciocínio. A fórmula é complexa, pois considera as próprias emoções e as dos outros.

“A pessoa usa as emoções para raciocinar. A partir do momento que identifica quais são as emoções nos ambientes, percebe o que tem que fazer para ter um melhor caminho que não afete ela e nem ninguém negativamente”, diz a psicóloga.

E quem reconhece o desconforto, mas se nega a mudar? Isso não é raro. A frustração e o receio de parecer falhar costumam ser os principais cronificadores de pessoas em cenários adversos, mas ainda suportáveis.

A vaidade também contribui para essa situação. “É bom ter reconhecimento. Isso reforça a pessoa a ficar nessa posição, mesmo sem um fim de semana de lazer. Ela pode estar em sofrimento e o reconhecimento dificulta com que ela se desapegue dessa situação. É difícil ‘desgarrar’. Mas isso tem um preço emocional”, avalia Muniz.

Autor Original

Destaques da Semana

Temas

Artigos Relacionados

Categorias mais Procuradas

spot_imgspot_img