quinta-feira, novembro 27, 2025

Bolsonaro preso 3 vezes? Até quando regime fechado? – 26/11/2025 – Poder


Com o fim do prazo para recursos no processo da trama golpista decretado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), na terça-feira (25), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou a cumprir a pena definitiva de 27 anos e três meses por seu envolvimento na tentativa de golpe de Estado.

Moraes determinou o trânsito em julgado do processo após a defesa do ex-presidente não apresentar novos embargos de declaração. Para o ministro, não há previsão legal de outros recursos.

O entendimento do STF é que os embargos infringentes, outro recurso cabível, só seriam admitidos caso haja dois votos divergentes nas Turmas. No julgamento da trama golpista, apenas o ministro Luiz Fux votou pela absolvição do ex-presidente.

Bolsonaro já estava preso preventivamente na sede da Polícia Federal em Brasília desde sábado (22), quando Moraes entendeu que havia risco de fuga. Pesaram para a decretação da medida a tentativa de violar a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda e a convocação para uma vigília feita pelo filho do ex-presidente e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Desde então, Bolsonaro segue custodiado na PF para cumprir a pena definitiva. Moraes entendeu que o pedido da defesa para que o ex-presidente cumprisse a pena em casa, onde estava desde agosto em prisão domiciliar, ficou prejudicado com a prisão preventiva.

Entenda qual foi o caminho até a prisão na PF e qual o prognóstico para o ex-presidente.

Por que Bolsonaro foi preso em casa e depois na PF?

Desde agosto, o ex-presidente estava em prisão domiciliar em sua casa, em Brasília. Moraes tomou a decisão no dia 4 daquele mês após entender que Bolsonaro havia descumprido medidas cautelares de proibição do uso de redes sociais após gravar vídeos para apoiadores.

O ministro havia determinado também uso de tornozeleira eletrônica, e foi por violar esse dispositivo que Bolsonaro teve sua prisão preventiva decretada no sábado (22) por Moraes.

Para que serve a prisão preventiva?

Prevista no artigo 312 do Código Penal, a prisão preventiva tem, entre seus objetivos, o de “assegurar a aplicação da lei penal”. A redação dada a algumas hipóteses para decretação dessa medida, como “garantia de ordem pública”, são consideradas vagas pelo professor de direito penal da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Antonio Martins.

Ele pondera, entretanto, não acreditar que esse seja o caso do ex-presidente. “Há hipóteses mais concretas, por exemplo, quando há uma ameaça para o desenvolvimento normal do processo. Seja em relação à produção de provas e testemunhas, seja um risco de fuga. No caso específico do ex-presidente, foi essa a razão para a decretação da prisão”, diz.

Até quando Bolsonaro pode ficar preso em regime fechado?

A pena do ex-presidente soma 27 anos de três meses pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, dano ao patrimônio tombado e dano qualificado.

Na legislação brasileira, a progressão de regime –quando um detento passa do fechado para o semiaberto ou aberto –é regida pela Lei de Execuções Penais. A norma prevê que o réu deve cumprir entre 16% e 70% da pena para abrandar as condições do cárcere.

Segundo advogados ouvidos pela Folha, há divergências em torno do cálculo para determinar tempo que Bolsonaro ficará em regime fechado.

Para a progressão, podem incidir sobre as penas do ex-presidente as porcentagens de 16%, para crimes sem violência, e 25%, para crimes com violência. Há também a possibilidade de unificação, na qual a incidência se restringiria a 25%. Em ambos os cenários, Bolsonaro pode progredir para o semiaberto em cerca de seis anos.

O tempo de prisão cumprido antes da pena definitiva será abatido?

Há previsão legal para que o tempo em que Bolsonaro ficou em prisão domiciliar e preso preventivamente na PF seja descontado da pena de 27 anos e três meses, que começou a ser cumprida oficialmente na terça (25).

Especialistas ponderam que o cenário para o ex-presidente é confuso. O motivo é que Bolsonaro ficou preso cautelarmente —em casa ou na PF— por decisões tomadas a partir dos desdobramentos da denúncia de obstrução de Justiça que pesam contra ele, seu filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e Paulo Figueiredo.

“Essa certa confusão vem de uma ‘porta aberta’ pelo próprio ministro. Moraes vai poder dizer que o tempo em que ele [Bolsonaro] ficou cautelarmente preso não é associado a esse caso em específico, mas sim a outro inquérito. Mas também existe espaço para considerar no cálculo”, afirma a advogada Pamela Torres Villar, especialista em direito penal pela Universidade de Coimbra.

Quais são os critérios para definir o local da prisão?

A Lei de Execuções Penais prevê que a custódia dos réus deve acontecer em unidades penitenciárias próximas a seus familiares e do seu entorno social. A regra, segunda Villar, serve à função ressocializadora das penas.

Martins afirma, entretanto, que apesar da regra geral ser o cumprimento em unidade prisional, há liberdade para que o juiz escolha o local considerado mais adequado. No caso de Bolsonaro, o professor explica que há outras circunstâncias a serem levadas em consideração.

“Faz sentido, levando em consideração os riscos que podem existir à integridade física de alguém que ocupou um cargo de presidente da República. Nesse sentido me parece é válido discutir. Mas não há efetivamente uma previsão expressa”, afirma.

Bolsonaro pode passar a cumprir pena em casa?

A prisão domiciliar, explica Villar, tende a acontecer em dois casos. O primeiro seria para cumprimento de medida cautelar durante o curso do processo. Era esse o caso de Bolsonaro desde agosto até a prisão na sede da PF no último sábado (22).

A outra hipótese depende do estado de saúde do réu. Os critérios nesses caso, previstos na Lei de Execuções Penais, incluem idade avançada (superior a 70 anos) e outras situações de saúde que justifiquem o cumprimento da pena em casa.

Ainda é possível recorrer da decisão?

É possível apresentar embargos de declaração. Se interpostos, afirma Villar, esses recursos seriam possivelmente rejeitados. Além disso, eles podem ser considerados “meramente protelatórios”, ou seja, com finalidade de postergar o fim do processo. Isso pode levar a defesa do ex-presidente a ser condenada por litigância de má-fé e ao pagamento de multa.

É possível que Bolsonaro reverta a condenação?

O caminho possível, segundo Martins, é um pedido de revisão criminal, ação autônoma que permite a rediscussão de uma condenação definitiva. Ele ressalta, entretanto, que os critérios para que a revisão seja aceita são muito específicos e chance de sucesso é baixa.

“É geralmente apresentada com uma certa distância da condenação. Imaginando o momento que a condenação se deu e que o mesmo tribunal reconheça que a condenação se deu contra os fatos, me parece muito improvável”, afirma o professor.

O que é revisão criminal?

Prevista no artigo 621 do Código de Processo Penal, essa classe processual não prescreve e pode ser apresentada a qualquer momento, mesmo anos após a condenação definitiva.

“São três critérios [para a revisão criminal]: a constatação de que a condenação contrariou os fatos, a constatação de houve juntada de provas falsas ou surgimento de uma nova prova que demonstra inocência do condenado”, diz Martins.



Source link

Destaques da Semana

Temas

Artigos Relacionados

Categorias mais Procuradas

spot_imgspot_img