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O melhor filme de máfia já feito em todos os tempos (sim, até superior à saga O Poderoso Chefão) completa 35 anos neste mês de outubro. Lançado em 1990, Os Bons Companheiros redefiniu o gênero policial e inaugurou uma nova linguagem para as histórias do crime organizado. A estética realista e o ritmo frenético fizeram da produção dirigida por Martin Scorsese uma obra seminal na história do cinema.
O longa-metragem é baseado no livro de não-ficção Wiseguy, escrito por Nicholas Pileggi. A trama apresenta a trajetória de Henry Hill, vivido por Ray Liotta, um jovem que sonha em integrar a máfia. Joe Pesci (Tommy DeVito) interpreta outro iniciante e os dois novatos são acolhidos pelo personagem de Robert De Niro (Jimmy Conway), um criminoso já experiente, que completa o trio de protagonistas.
Goodfellas, no título original em inglês, influenciou dezenas de produtos audiovisuais desde o seu lançamento. De Família Soprano e Breaking Bad, séries consideradas as melhores de todos os tempos, passando por filmes como Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994), Boogie Nights (1997), Cães de Guerra (2017), Feito na América (2017), entre outros. Até o próprio Scorsese emulou o estilo consagrado em O Lobo de Wall Street (2013).
Ver e rever Os Bons Companheiros é assistir a uma aula de como fazer cinema. A produção é um exemplo de como construir uma narrativa envolvente, com personagens inesquecíveis e uma trilha sonora marcante. Abaixo, nós selecionamos cinco cenas que definem o que representa o clássico de Scorsese, Liotta, De Niro e Pesci.
A abertura com o porta-malas

Os Bons Companheiros começa com Hill, Conway e DeVito parando o carro à noite, em um lugar ermo, e abrindo o porta-malas, onde está o corpo de outro mafioso, Billy Batts, ainda vivo, antes de ser brutalmente liquidado. Em seguida, se ouve a voz do narrador: “As far back as I can remember, I always wanted to be a gangster” (na tradução para o português: “Até onde eu me lembro, sempre quis ser um gângster”). O momento sintetiza a violência, a corrupção moral e o fascínio que movem toda a história.
O plano-sequência do Copacabana

É talvez o plano mais célebre da carreira de Scorsese. Henry leva Karen (Lorraine Bracco) para o clube Copacabana, entrando pela cozinha. A câmera o segue por três minutos ininterruptos, sem cortes, atravessando corredores, cumprimentos, gorjetas e uma mesa sendo montada especialmente para o casal, na posição mais privilegiada da casa. Ao som de Then He Kissed Me, do The Crystals, o plano-sequência simboliza o poder, o status e a sedução do mundo mafioso.
“Engraçado como? Como um palhaço?”

A cena em que Tommy (Joe Pesci) finge se ofender com uma brincadeira de Henry é um clássico. Numa mesa de mafiosos, em um restaurante, o personagem de Pesci reclama para o parceiro: “I’m funny how? I mean funny like a clown? I amuse you?” (“Engraçado como? Como um palhaço? Eu te divirto?”, na tradução para a legenda em português). Pesci improvisou grande parte do diálogo, inspirado em uma história real que ouvira de criminosos. O resultado é uma das sequências mais desconfortáveis e imprevisíveis já filmadas. Pesci venceu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante pelo papel do violento Tommy. Curiosamente, das oito indicações foi a única estatueta de Os Bons Companheiros, que perdeu o prêmio de Melhor Filme em 1991 para o totalmente esquecível Dança com Lobos, estrelado por Kevin Costner.
O helicóptero e a paranoia

Já ao final, é um estudo de edição e ritmo a sequência que mostra Henry em paranoia, entorpecido pela cocaína. Enquanto executa uma série de tarefas ao longo da manhã, o personagem acredita estar sendo seguido por um helicóptero. A montagem de Thelma Schoonmaker, parceira de Scorsese em várias produções, alterna planos em ritmo alucinante, ao som de Jump Into the Fire (Harry Nilsson) e Monkey Man (Rolling Stones). É um retrato cinematográfico da perda total de controle, o ápice da decadência do protagonista e o colapso do sonho gangster.
Apenas um panaca

Ao fim do filme, Henry se volta contra os comparsas e testemunha no tribunal, delatando a todos. Olhando para a câmera, se dirigindo ao espectador, ele diz: “I’m an average nobody. I get to live the rest of my life like a schnook” (“Sou um joão-ninguém. Vou viver o resto da vida como um panaca”, na tradução para o português). Scorsese destrói o glamour da máfia e encerra o filme com um anticlímax. O gângster agora é um homem comum, preso à banalidade. A trilha de My Way, na versão punk de Sid Vicious, sela o tom irônico e trágico do final de Os Bons Companheiros.
- Os Bons Companheiros
- 1990
- 125 minutos
- Indicado para maiores de 14 anos
- Disponível na HBO Max e para locação na Amazon, Apple TV+ e YouTube
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