Andar pelas ruas de Seul significa ser, a todo momento, impactado por anúncios de clínicas de beleza. Elas estão tanto nas áreas mais turísticas, como Myeongdong, quanto nas residenciais, como Jamsil. Assim, oferta é o que não falta: embora o recomendado seja agendar o procedimento com antecedência, se você decidir fazer algo no mesmo dia, como eu, vai encontrar quem te atenda.
Decidi, então, que aquele domingo seria o dia certo para fazer o meu primeiro procedimento estético no rosto. Se já estava lá, por que não? Afinal, a Coreia do Sul é conhecida pelo pioneirismo nos cuidados com a pele.
Procurei uma clínica bem avaliada, próxima ao meu hotel e com preços acessíveis. Depois de enviar mensagem para cinco delas, a Vands me respondeu dizendo que teria um horário —e fui.
No agendamento, não é necessário dizer qual procedimento você está buscando. O cliente passa primeiro por uma avaliação, muitas vezes gratuita, e depois segue para uma consulta, na qual um atendente recomenda os procedimentos mais adequados em relação aos pontos identificadas (tanto os que você já havia mencionado quanto novos, detectados pela análise, uma espécie de exame). Após lavar bem o rosto, esse é o primeiro passo.
Minhas únicas queixas eram as manchas de sol e as sardas. Depois da análise facial, porém, descobri que a idade da minha pele é de 31 anos, ante meus 29; que tenho olheiras profundas; e que minha epiderme é oleosa, quando eu jurava que era seca. Até então, nada do apontado me incomodava.
O diagnóstico sobre a minha pele veio de um relatório de mais de dez páginas, produzido a partir do exame feito por uma máquina que, por meio de diferentes espectros de luz, identifica a idade da pele, manchas que sequer surgiram, textura, tamanho dos poros, quantidade de sebo, sensibilidade, inflamações e danos solares, entre outros aspectos. Um terror, como se pode imaginar.
“Na Coreia do Sul, existe uma indústria muito forte por trás do tratamento de beleza e um marketing muito grande aliado a uma cultura de skincare precoce e cruel”, observa o dermatologista Thiago Cunha, da clínica Espaço Arquétipo, em São Paulo.
“Se a gente já tem aqui no Brasil essa preocupação grande com a estética, lá é muito pior culturalmente porque existe uma estrutura social muito rígida em termos de classificar uma pessoa como sendo bem-sucedida. E a aparência da pele está ligada a esse status”, afirma.
Cho Min Ju, diretora médica da clínica, diz que esse é o procedimento padrão nas clínicas estéticas coreanas. “Nós usamos uma máquina chamada MarkView. Ela tira uma foto do seu rosto e avalia toda a sua pele.” No Brasil, esse tipo de mapeamento também é feito com diferentes máquinas.
O tratamento recomendado para mim foi direcionado ao que consideraram meu principal problema: a tendência a rugas. Escolhi o procedimento mais vendido na clínica, o Potenza, um microagulhamento com radiofrequência, com uma ampola desenvolvida pelos médicos da Vands, que melhora rugas, flacidez, cicatrizes e o aspecto geral da pele.
A dor causada pelo procedimento é leve, um dos pontos positivos em relação a outros tratamentos que usam injeções subcutâneas, como bioestimuladores de colágeno— embora estes sejam mais eficientes, segundo a diretora médica.
“As injeções manuais têm o melhor efeito, porque você está literalmente colocando as ampolas de skinboosters diretamente na pele por meio de injeções. Já em outros aparelhos, como Potenza ou NTS, nós aplicamos a ampola espalhando no rosto e depois empurramos para dentro. Ou seja, o método de entrega é obviamente diferente.”
Além do Potenza, optei por uma sessão de pico laser, um tipo de laser que emite pulsos ultracurtos considerado padrão ouro para tratar problemas relacionados à pigmentação, como manchas e melasma e sardas. Afinal, mesmo após o grave diagnóstico de ser mais velha do que minha idade real, ainda queria me livrar das sardas que, essas sim, me incomodavam.
O pagamento foi feito ali mesmo, um total de 200 mil won (cerca de R$ 730). As tecnologias Potenza e pico laser também estão disponíveis em clínicas dermatológicas no Brasil. No entanto, em média, uma sessão de pico laser custa R$ 2.000, e a do Potenza, se for feito no rosto todo, sai por volta de R$ 5.000.
Cunha afirma que o custo é mais barato na Coreia do Sul porque esses aparelhos são produzidos lá. Aqui, as clínicas que compram ou alugam essas máquinas precisam arcar com o valor de importação delas.
No início da minha experiência, parecia algo de fato personalizado. A análise facial é de cair o queixo, embora a atendente não tenha dedicado tanto tempo para me explicar os detalhes. Se você tiver tranquilidade para falar sobre orçamento, eles encaixam o melhor possível dentro do que você tem. E são, claro, simpaticíssimos.
Já no andar de cima, onde os procedimentos são realizados, você entra em uma linha de produção. De uma sala é direcionada para outra, com pouca ou nenhuma explicação. O tempo entre uma cliente e outra se resume aos minutos gastos na limpeza do espaço.
Após cerca de 30 minutos com o creme anestésico, fui levada a uma sala para fazer o laser. O médico entrou, realizou o tratamento e saiu sem dizer quase nada. Aquele momento, cheio de expectativas, durou coisa de cinco minutos.
Na sala seguinte, onde faria o microagulhamento, puxei conversa. Falamos sobre os produtos que eu poderia usar no rosto após o procedimento e por quanto tempo deveria evitar o sol. Ele reiterou as recomendações dadas pela atendente e me ofereceu algumas dicas extras.
Com uma pele tão bonita quanto intimidadora, o médico disse que os resultados seriam percebidos semanas depois.
Após cerca de 20 dias, minha pele está, de fato, mais iluminada. As poucas rugas também parecem suavizadas. Já as manchas que me levaram até lá continuam por aqui.
O acompanhamento da evolução da pele é um ponto importante para o resultado dos tratamentos, reforça Cunha. No Brasil, eu teria outras consultas de retorno para avaliar a necessidade de outras sessões.





