terça-feira, dezembro 2, 2025

Consultorias congelam salários iniciais por impacto de IA – 02/12/2025 – Mercado

As maiores consultorias do mundo congelaram os salários iniciais pelo terceiro ano consecutivo, à medida que a IA (inteligência artificial) começa a remodelar o setor e força as empresas a reconsiderar sua tradicional estrutura em “pirâmide”.

Propostas de emprego enviadas por empresas como McKinsey e Boston Consulting Group para 2026 mostram que o salário oferecido a recém-formados está sendo mantido no mesmo nível deste ano, segundo a Management Consulted —que orienta estudantes durante processos seletivos— e pessoas familiarizadas com as ofertas.

As propostas indicam uma postura mais cautelosa na contratação por parte de firmas que estão entre as maiores recrutadoras de recém-graduados e alunos de MBA.

“Há ganhos reais de produtividade com a implementação de IA dentro das empresas”, disse Namaan Mian, diretor de operações da Management Consulted, acrescentando que a capacidade de extrair mais valor de menos funcionários juniores “está pressionando os salários para baixo”.

A Management Consulted constatou que as propostas para o primeiro ano para recém-formados nos EUA, incluindo salário e bônus, ficaram entre US$ 135 mil (R$ 723,2 mil) e US$ 140 mil (R$ 750 mil) em McKinsey, BCG e Bain & Co em 2024 e 2025, enquanto graduados em MBA podiam esperar de US$ 270 mil (R$ 1,4 milhão) a US$ 285 mil (R$ 1,5 mi). As três empresas não comentaram.

Os salários iniciais nos quatro gigantes de auditoria e consultoria —Deloitte, EY, KPMG e PwC— que tendem a ser mais baixos, estão estagnados há ainda mais tempo, sem aumentos desde 2022.

O chefe da PwC no Reino Unido, Marco Amitrano, disse que a contratação de recém-formados caiu em 2025. A empresa afirmou em outubro que não cumpriria a meta de aumentar sua força de trabalho global em 100 mil pessoas até 2026. A meta havia sido definida cinco anos atrás, antes da disseminação da IA generativa.

Mohamed Kande, presidente global da PwC, disse ao Financial Times em outubro que a IA aumentou a produtividade da equipe. Em uma entrevista à BBC no mês passado, afirmou que a PwC buscava contratar “um conjunto de pessoas diferentes” do perfil tradicional da firma, incluindo mais engenheiros.

Essa revisão é comum a muitas consultorias, disse Mian, da Management Consulted. A IA reduz a necessidade de analistas generalistas dedicados a processar dados, organizar insights de mercado e recomendações estratégicas em apresentações de PowerPoint.

As empresas estão buscando profissionais “mais experientes e especializados”, já que passam menos tempo em consultoria estratégica tradicional e mais ajudando clientes a implementar tecnologia e IA, afirmou. “É mais difícil alocar um jovem de 23 anos nesses projetos do que alguém experiente.”

Alguns executivos do setor dizem que as práticas de contratação mais conservadoras refletem a antecipação dos ganhos de produtividade da IA, e não necessariamente que esses ganhos já estejam sendo realizados.

Dois executivos seniores do setor estimam que, nas maiores consultorias e empresas de auditoria do Reino Unido, a contratação de recém-graduados deve cair cerca de metade no próximo ano.

Essa transformação indica que a tradicional pirâmide —na qual milhares de jovens profissionais entram e sobem por meio de uma cultura de promoções— pode estar prestes a mudar, segundo especialistas.

Alguns apostam em uma estrutura de “obelisco”, com menos camadas e menor dependência de pessoal em início de carreira, enquanto outros preveem uma espécie de “ampulheta”, afunilada no meio conforme a IA automatiza tarefas rotineiras de nível intermediário.

Antonio Alvarez III, chefe europeu da consultoria Alvarez & Marsal, defende um “modelo em caixa”, aproximando mais o número de profissionais seniores do número de juniores, já que se apoia mais em especialistas experientes do que em “grandes contingentes de analistas iniciantes”.

“Embora esperemos que a IA aprimore análises e reduza a necessidade de trabalho júnior, também antecipamos que ela aumentará a demanda geral por nossos serviços, criando compensações naturais”, afirmou Alvarez.

Após vários anos de crescimento lento de receita, consultorias vêm adotando IA internamente para elevar a lucratividade dos sócios, e também para demonstrar seus benefícios a clientes céticos.

A PwC cortou 150 funcionários administrativos nos EUA, afirmando que “assim como ajudamos nossos clientes todos os dias, estamos nos tornando mais digitais”. A McKinsey cortou 200 vagas de TI globalmente nos últimos dias, dizendo que “a IA está permitindo níveis inéditos de oportunidade e impacto para nós e nossos clientes”.

A Accenture reduziu sua força de trabalho global em mais de 11 mil pessoas, para 779 mil, nos três meses até agosto, e afirmou que demitiria profissionais que acredita não poderem ser requalificados para usar IA.

Mark Bunker, ex-sócio sênior da Deloitte e agora sócio-diretor da start-up Queen’s Tower Advisory, disse: “O caminho parece ser de que a base vai encolher conforme o trabalho rotineiro é automatizado, mas a necessidade de julgamento experiente no topo será ainda mais crítica.”

Nem todos concordam que a IA vai eliminar a pirâmide. Eric Kutcher, presidente da McKinsey na América do Norte, disse em setembro que a firma vai contratar 12% mais recém-formados em 2026 do que este ano. “O que fazemos ainda exigirá o mesmo nível de intelecto, o mesmo ritmo, e você continuará fazendo coisas que máquinas não conseguem fazer.”

Hornby, da AlixPartners, disse que a pirâmide tradicional provavelmente “vai encolher um pouco”, mas que “surgirão novos empregos, inclusive em níveis juniores, voltados para a gestão e curadoria” de sistemas de IA.

“Qual será o resultado líquido, não tenho certeza. O timing exato, também não. Na Revolução Industrial e na revolução da internet, houve perdas antes dos ganhos, houve um hiato no meio. E isso pode acontecer.”

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