A associação entre o cortisol e o estresse não é novidade, mas a vilanização desse hormônio se amplifica a partir de publicações nas redes sociais. A ideia de que ele atrapalha o emagrecimento ou faz engordar, no entanto, é uma visão reducionista de suas funções. De acordo com a nutricionista Maria Claudia Hauschild, especializada em Transtornos Alimentares, o “hormônio do estresse” é conhecido assim por regulá-lo ao longo do dia, já que sua ação no organismo se mantém inalterada desde quando a espécie humana precisava caçar e se proteger de predadores: “Nossa vida mudou, mas nossa genética, não”, diz.
Por isso os níveis de cortisol são naturalmente mais elevados pela manhã e mais baixos à noite, indicando ao cérebro quando é momento de estar alerta ou relaxar. O cortisol também regula o metabolismo, o sistema imunológico, a resposta inflamatória, faz a manutenção da pressão arterial e do humor. Ou seja, gerencia os recursos energéticos e as respostas do corpo para garantir sua sobrevivência.
Em casos de doenças, estresse crônico e sono desregulado, o hormônio pode, sim, ser afetado e interferir no acúmulo de gordura visceral. Ela explica que a oscilação na alimentação pode ocasionar a reabsorção de energia pelo fígado, órgão que chama de coordenador do metabolismo, e então ocasionar esse acúmulo. Mas não é simples.
De acordo com Flávia Amanda Barbosa, coordenadora do Departamento de Adrenal e Hipertensão da SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), a relação de causalidade segue controversa. Ela cita um artigo publicado em 2024 pela Frontiers in Endocrinology, que aponta uma relação entre os níveis de cortisol e obesidade. “Não significa que elevação do hormônio seja a causa direta do ganho de peso. Pode haver outros fatores como a dieta, fatores genéticos, sedentarismo”, diz.
Para entender isso não bastam estudos pontuais, com medidas únicas. São necessários estudos de longo prazo, controlados, com uma padronização de ações e condutas, explica.
De acordo com Maria Claudia, as principais alterações no hormônio podem ocorrer pelo estresse crônico e distúrbios de sono. “Mas aí a preocupação deve ser com o estresse, não com o peso”, afirma.
Para que a alteração nos níveis de cortisol afete o metabolismo não basta uma semana estressante ou de noites mal-dormidas. O estresse crônico deve ser identificado por profissionais da saúde a partir de um conjunto de dados individuais que incluem peso, alimentação, qualidade do sono, comportamentos e exames. “O cortisol é um resultado dos nossos hábitos”, diz.
Nesses casos é importante fazer a gestão do estresse por meio de medidas comportamentais, diz Flávia. Meditações, técnicas de relaxamento, atividade física regular, alimentação balanceada. A especialista enfatiza a importância de procurar o atendimento médico para avaliar se existe uma condição psiquiátrica e a necessidade de uso de medicamento, se há alguma condição endocrinológica que possa levar a alteração e perda do ritmo circadiano.
Segundo dados do Google Trends deste ano, a busca por “estresse crônico” aumentou com relação aos últimos dez anos, e pesquisas sobre “cortisol” dobraram no último semestre. O interesse por estratégias para diminuir o estresse pode estar ligado a um estilo de vida sobrecarregado.
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