quinta-feira, novembro 27, 2025

Democracia brasileira nos surpreende, diz Wisnik no lançamento de ‘A Palavra e o Poder’ em Lisboa – 26/11/2025 – Poder


—”A democracia brasileira vai várias vezes para o fio da navalha, a ponto de desmoronar completamente, e de repente nos surpreende, nos ensina como lidar com autoritarismos e ameaças de golpe”, afirmou o ensaísta e compositor José Miguel Wisnik no lançamento do livro “A Palavra e o Poder – uma Travessia Crítica por 40 anos de Democracia Brasileira” em Lisboa nesta quarta (26).

Wisnik chamou a atenção para a sincronicidade entre o lançamento da publicação e as notícias que chegam do país. “O Brasil não coube no abismo que foi o golpe tentado e que está sendo punido.”

Parceria da Folha e do grupo editorial Record, o livro reúne 41 textos publicados no jornal ao longo de 40 anos de democracia, contextualizados e comentados por jornalistas e personalidades relevantes no debate público brasileiro.

O lançamento aconteceu na Fundação Calouste Gulbenkian, marco simbólico da redemocratização portuguesa. Foi lá que, em 1975, instalou-se o quartel-general das apurações da primeira eleição do país após o fim da ditadura salazarista.

A mesa de lançamento reuniu os brasileiros Wisnik e Milena Britto, dois dos três curadores da exposição “Complexo Brasil”, em cartaz na própria Gulbenkian; os portugueses Capicua e Rodrigo Tavares, ela rapper e escritora, ele idealizador e um dos organizadores do livro (ao lado dos jornalistas da Folha Flavia Lima e Naief Haddad); e a jornalista Mafalda Anjos, mediadora da conversa.

O editor-executivo da Folha, Vinicius Mota, foi responsável pela fala de abertura.

Milena Britto, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), falou sobre política e cultura, fazendo a ponte entre o livro “A Palavra e o Poder” e a exposição da qual é uma das curadoras. “A gente vive festejando o lado luminoso da democracia, mas há também o lado sombrio. Há quem acione os princípios democráticos para fins que não são necessariamente democráticos”, disse.

“Neste momento muitas vezes somos salvos pela arte e pela cultura, pelas palavras que vêm das ruas e se transformam em luta e resistência.”

Capicua afirmou que o Brasil é um manancial de produção cultural e de manifestações da sociedade civil. “Sinto-me privilegiada de falar a mesma língua e ter acesso a tudo isso”, disse.

Segundo ela, “na democracia brasileira, é entusiasmante acompanhar o crescimento de manifestações como o feminismo, especialmente o feminismo negro brasileiro”.

Rodrigo Tavares, professor da Universidade Nova de Lisboa, comparou os processos de redemocratização do Brasil e de Portugal. “Os dois países vieram de ditaduras muito longas e tentaram desde o começo criar direitos sociais em suas constituições —não tínhamos SUS no Brasil nem seu similar, o SNS, em Portugal.”

De acordo com ele, “Brasil e Portugal têm também imaginários semelhantes, os dois oscilam entre o atraso e a vontade de ser uma potência, Portugal olhando para o passado, o Brasil para o futuro”.

Em sua intervenção, Vinicius Mota lembrou que o texto publicado na Folha sobre a Revolução dos Cravos, em abril de 1974, foi escrito pelo jornalista português Victor Cunha Rêgo, uma influência na formação de Otavio Frias Filho, o responsável, nos anos 1980, pela modernização e profissionalização do jornal.

“O jornalismo se distancia dos sectarismos e se aproxima do público quando submete todos os poderosos, a despeito de suas inclinações ideológicas, ao mesmo crivo da crítica”, disse Mota, relembrando uma crença comum de Frias Filho e Cunha Rêgo.

Em sua fala final, Tavares ressaltou a força da sociedade civil brasileira como um dos motores da redemocratização do país. Nos anos 1970, em plena ditadura e de forma pioneira, a Folha abriu suas páginas a protagonistas da sociedade civil, que criticavam o regime no papel de colunistas e colaboradores.

Seguiu-se de forma natural o protagonismo do jornal na campanha das Diretas Já, com o slogan “use amarelo pelas Diretas”. Tavares apontou o texto de Ulysses Guimarães produzido no calor dessa campanha, em 25 de janeiro de 1984, como um dos destaques do livro.



Source link

Destaques da Semana

Temas

Artigos Relacionados

Categorias mais Procuradas

spot_imgspot_img