“Vão acabar com a praça Onze“, denunciou o samba de Herivelto Martins e Grande Otelo. Mais de 80 anos depois, o prefeito Eduardo Paes quer revivê-la.
No auge, entre o fim do século 19 e os anos 40 do século 20, era um caldeirão de culturas, dentro do qual se fixaram escravizados libertos vindos da decadente lavoura cafeeira e imigrantes estrangeiros, sobretudo portugueses, italianos, espanhóis. Árabes e judeus se misturavam.
Nas imediações havia uma enorme quantidade de casas de lazer: cafés, bares, cervejarias, boliches, salões de sinuca e gafieiras para se dançar o maxixe. Depois, claro, o samba, com apresentações das primeiras escolas. Em 1942, ela foi engolida para a construção da avenida Presidente Vargas. As demolições na área desalojaram centenas de famílias e derrubaram 525 prédios.
É curioso notar que um dos primeiros planos urbanos para o Rio, elaborado em 1843 pelo engenheiro Henrique de Beaurepaire Rohan, colocava o Campo de Santana, vizinho da praça, em posição central, de onde a cidade deveria crescer, indo na direção oeste. A realidade não quis assim. As chácaras de frente para o mar do Flamengo e de Botafogo, preferidas da aristocracia, levaram o desenvolvimento para a zona sul.
Candidato a governador, Paes tenta dar uma volta no parafuso da história. Como fez com a Perimetral na zona portuária, a condição sine qua non será derrubar o viaduto Trinta e Um de Março, que corre paralelo ao Sambódromo, substituindo-o por um mergulhão.
O nome do projeto, Praça Onze Maravilha, revela falta de criatividade. Mas as ideias são boas: uma grande biblioteca e a praça da Apoteose sem grades, integrada ao espaço renovado com árvores. Para atrair novos moradores, a revisão das regras de construção e de gabarito na Cidade Nova, Estácio, Catumbi, Rio Comprido, bairros parados no tempo. É necessário que haja uma contrapartida para preservar ao menos uma parte do antigo casario.
Não sairá barato, R$ 1,75 bilhão, e a conclusão das obras está distante —só em 2032. Tomara que dê certo.
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