A indicação de Jorge Messias ao Supremo abriu um conflito institucional de alto custo e colocou o governo diante de um risco que nenhum presidente enfrentou desde o início da República: ver seu indicado ao STF ser barrado pelo Senado.
O que deveria ter sido uma formalidade transformou-se em disputa aberta entre o Planalto e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), que assumiu a liderança do campo contrário e passou a sinalizar ter votos suficientes para derrotar o nome escolhido por Lula.
Em análise da Palver com dados de mais de 100 mil grupos públicos de WhatsApp ao longo das últimas semanas, observa-se que predomina com folga a narrativa contrária à indicação.
A oposição atua praticamente sozinha em uma campanha contínua de ataque, enquanto as mensagens favoráveis permanecem tímidas e dispersas, sem a mobilização esperada da base lulista.
Ao longo de quase todo o mês de novembro, mais de 50% das menções foram críticas a Messias, chegando ao pico de 91% em determinado momento. Já o apoio ao indicado raramente superou 10% das mensagens diárias, alcançando no máximo 20%.
A falta de engajamento da base petista pode ser atribuída a dois fatores principais: a ausência de figuras de esquerda de grande projeção defendendo publicamente o nome de Messias e a frustração da ala mais progressista, que passou o ano articulando pela indicação de uma mulher negra ao Supremo.
Esse vácuo permitiu que três linhas de ataque se consolidassem nos grupos.
A primeira explora o papel desempenhado por Messias nos desdobramentos do 8 de Janeiro, com vídeos que o mostram manifestando apoio a Alexandre de Moraes e defendendo a prisão em flagrante dos envolvidos na invasão.
A segunda retoma o episódio do “Bessias”, associado ao áudio vazado entre Lula e Dilma na Operação Lava Jato, e tenta vinculá-lo a esquemas de corrupção.
A terceira questiona sua identidade religiosa, classificando-o como “falso evangélico”.
Parte das críticas à identidade religiosa é possível ver em vídeos de ampla circulação nos grupos. Em um dos vídeos, o deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) afirma que conhece Messias e reconhece que ele é evangélico, mas insiste que, “antes de ser evangélico, ele é petista”.
A crítica central à atuação de Messias como advogado-geral da União falaria mais alto que sua identidade religiosa, especialmente no episódio do parecer da AGU sobre a ADPF que discute a interrupção da gestação após 22 semanas.
Para Sóstenes, um “evangélico verdadeiro” não poderia ter assinado um documento interpretado pelo grupo como permissivo ao aborto.
As críticas a Messias vêm acompanhadas de uma volta de ataques ao STF e menções à lei Magnitsky que coloca novamente a Suprema Corte no centro do debate político.
A notícia da separação de Gilmar Mendes e sua esposa é apresentada como uma tentativa do ministro de driblar a lei Magnitsky.
Também crescem menções à crise do Banco Master como elemento narrativo que também busca associar Gilmar Mendes e o ministro Alexandre de Moraes ao banqueiro Daniel Vorcaro que foi preso na Operação Compliance Zero.
Diante da tensão aberta com Davi Alcolumbre e da ausência de engajamento da própria base, o governo chega à sabatina de Messias em um dos momentos mais delicados do ano.
Nos últimos meses, o Planalto acumulou vitórias importantes, como a derrota da PEC da blindagem e o avanço da isenção do Imposto de Renda, conquistas que contaram com forte adesão narrativa e venceram no debate público.
A nomeação de Messias, no entanto, se encontra em um deserto de apoio, sem a mobilização política que sustentou outras vitórias recentes.
Além de desgastar o Planalto, a disputa revive ataques ao STF e expõe a Corte a um ambiente de hostilidade crescente, inaugurando um capítulo em que o governo corre o risco real de perder uma batalha institucional de importância histórica.
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