Madre Teresa & Eu é um filme que fala baixo, mas diz muito. Alternando entre os dias atuais e os anos 1940, a narrativa costura duas histórias femininas que, embora distantes no tempo, se encontram na busca por sentido em meio ao caos. Kavita, jovem indiana vivendo em Londres, enfrenta uma gravidez inesperada e um relacionamento em ruínas. Madre Teresa, recém-chegada a Calcutá, começa a ouvir um chamado que mudará sua vida. E a de milhares de pessoas.
O filme não se apressa. Ele caminha com os personagens, respeita seus silêncios, seus medos e suas contradições. Kavita não é uma heroína pronta, tampouco Teresa é uma santa inalcançável. Ambas são mulheres em travessia, lidando com escolhas difíceis e dores que não cabem em frases prontas.
A direção de Kamal Musale evita o tom reverente. Ao invés de exaltar Madre Teresa como ícone, ele a apresenta como mulher: alguém que duvida, que hesita, que sofre. Essa abordagem torna sua fé mais próxima, mais humana, feita de perguntas, não de certezas.
O que mais impressiona é a delicadeza com que o roteiro conecta as duas histórias. Não há lições explícitas, nem revelações grandiosas. Há gestos pequenos que, juntos, formam uma narrativa sobre acolhimento, do outro e de si mesma.
“Matre Teresa & Eu” aborda questão do aborto de forma corajosa
Um dos pontos mais delicados e corajosos de Madre Teresa & Eu é a forma como o filme aborda o aborto. A narrativa não se limita a apresentar Kavita como uma jovem em crise diante de uma gravidez inesperada; ela coloca o espectador dentro de sua angústia, expondo o dilema entre liberdade individual, responsabilidade e o peso das expectativas sociais e familiares.
O roteiro evita simplificações. Não há discursos moralistas nem soluções fáceis. Kavita é mostrada como uma mulher que precisa decidir sobre seu corpo e seu futuro, e o filme acompanha essa jornada com respeito, sem transformar sua escolha em espetáculo ou julgamento. A mensagem final enaltece a visão pró-vida. Essa abordagem confere ao tema uma dimensão humana, que dialoga diretamente com o público contemporâneo.
No filme, a vida é tratada como uma missão de cuidado
Em paralelo, a narrativa de Madre Teresa traz outra perspectiva: a da vida como missão de cuidado. Ao mostrar Teresa em seus primeiros passos em Calcutá, o filme revela uma mulher que se dedica a acolher os mais vulneráveis, inclusive mães e crianças abandonadas. Essa contraposição não é feita para condenar Kavita, mas para ampliar o debate: enquanto Teresa encontra sentido na entrega ao outro, Kavita busca sentido na autonomia sobre si mesma.
O resultado é um diálogo silencioso entre duas formas de encarar a vida. O filme não tenta impor uma resposta definitiva sobre o aborto, mas sugere que a questão envolve mais do que escolhas individuais — envolve também o contexto social, cultural e espiritual em que essas escolhas são feitas. Madre Teresa & Eu não é um filme sobre milagres. É sobre presença. Sobre estar, mesmo sem saber exatamente como ajudar, com menos respostas e mais disposição para ouvir.
- Madre Teresa & Eu
- 2021
- 118 minutos
- Recomendado para maiores de 14 anos
- Disponível no Globoplay e no Amazon Prime Video
VEJA TAMBÉM:
-
“Som da Esperança” mostra que fé e união podem fazer milagres
-
“Beleza Negra”: a opressão não resiste ao amor e à lealdade






