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O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) promove nesta terça-feira (16) um evento em homenagem aos dois anos de formação da Aliança dos Estados do Sahel (AES), pacto criado entre ditaduras militares que controlam Mali, Níger e Burkina Faso após uma sequência de golpes que derrubaram governos civis eleitos em votações diretas.
Segundo o MST, o encontro, que será realizado em São Paulo, sob o nome “Vozes da África: revoluções pan-africanas hoje e o legado de Thomas Sankara”, reunirá lideranças dos países da AES para debater “os desafios atuais das revoluções” e “a luta contra o neocolonialismo” no continente africano.
Durante a programação, será lançado o dossiê “O Sahel em busca da soberania”, do Instituto Tricontinental de Pesquisa Social, e haverá a exibição de um documentário produzido pelo jornal Brasil de Fato sobre o tema, além de música, petiscos e bebidas típicas. O movimento define a formação da aliança como “parte da luta da emancipação africana e contra o imperialismo”.
O bloco de países hoje controlado por juntas militares tinha presidentes escolhidos em eleições diretas consideradas legítimas pela comunidade internacional, mas enfrentava críticas internas devido a problemas como baixa participação, desconfiança institucional, corrupção e a incapacidade de conter crises de segurança.
Golpes derrubaram governos eleitos democraticamente e reconhecidos pela comunidade internacional
No Mali, o presidente Ibrahim Boubacar Keïta, eleito em 2013 e reeleito em 2018, governava até agosto de 2020, quando foi derrubado por militares após protestos populares contra corrupção e descontentamento diante da expansão jihadista. Um governo de transição civil-militar foi criado, mas um segundo golpe, em maio de 2021, levou à prisão o presidente e o primeiro-ministro que haviam assumido.
Em Burkina Faso, o golpe ocorreu em janeiro de 2022, quando foi deposto o então presidente Roch Marc Christian Kaboré, eleito em 2015 na primeira eleição presidencial direta após a queda de Blaise Compaoré, que governou o país por 27 anos, e reeleito em 2020. Em setembro de 2022 houve uma nova troca da junta militar que controla o país, com o capitão Ibrahim Traoré assumindo o poder.
No Níger, Mohamed Bazoum havia sido eleito em 2021, na primeira transição democrática da história do país, recebendo o posto de Mahamadou Issoufou, que respeitou de forma inédita o limite de dois mandatos. Em julho de 2023, no entanto, Bazoum foi deposto por militares que também alegaram incapacidade do governo em lidar com a insegurança e a corrupção.
A AES foi criada em 16 de setembro de 2023 em meio à chamada crise nigerina, depois que a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou intervir militarmente no país para restituir o governo deposto.
O pacto assinado pelas ditaduras militares dos três países e celebrado pelo MST estabelece a criação da aliança para auxiliar contra possíveis ameaças de rebelião armada ou agressão externa, enfatizando que “qualquer ataque à soberania e integridade territorial de uma ou mais partes contratantes será considerado uma agressão contra as outras partes”.
Desde os golpes, as três nações africanas, ex-colônias francesas, passaram a confrontar a antiga metrópole e se aproximaram principalmente da Rússia, abrigando assessores militares e mercenários e recebendo armas e treinamento militar.
De forma mais pragmática, a China também manifestou apoio à “soberania” dos países africanos, enquanto Estados Unidos e União Europeia, em particular a França, romperam acordos de defesa.
O MST, no entanto, discorda que a aliança dos três países seja formada por ditaduras. “Os países membros da Aliança do Estado do Sahel não são ditaduras e sim levantes populares contra o colonialismo francês e o imperialismo norteamericano”, disse Messilene Gorete, da coordenação do Setor de Internacionalismo do MST, à Folha de S.Paulo.






