O papa Leão 14 se encontrou com o patriarca Bartolomeu, representante da Igreja Ortodoxa, nesta sexta-feira (28), na cidade de Iznik, antiga Niceia, na Turquia, onde ocorreu o Concílio de Niceia há 1.700 anos, o primeiro concílio ecumênico cristão.
Os dois participaram de cerimônia às margens do lago Iznik, em plataforma erguida ao lado das ruínas da Basílica de São Neófito, estrutura da antiguidade que estava submersa e foi redescoberta recentemente.
Durante sua fala, o pontífice americano reforçou a unidade teológica trazida pelo Credo de Niceia, surgido do concílio, e condenou o uso da religião para justificar a violência.
“Temos que rejeitar firmemente o uso da religião para justificar guerra, violência ou qualquer forma de fundamentalismo e fanatismo. Em vez disso, os caminhos a seguir são os do encontro fraternal, diálogo e cooperação”, afirmou Leão.
O pontífice católico visita a Turquia em sua primeira viagem internacional, seguindo desejo manifestado por seu antecessor, Francisco, de que gostaria de ir ao país por ocasião dos 1.700 anos do concílio. Leão, que se reuniu com o líder turco Recep Tayyip Erdogan, fica no país até domingo. Depois, visitará o Líbano.
Ocorrido no ano 325 na cidade que hoje em Iznik, a cerca de 140 km de Istambul, o concílio foi fundamental na história do cristianismo. Foi convocado pelo imperador romano Constantino 12 anos após ele ter liberado a fé religiosa, colocando fim à perseguição aos cristãos, e reuniu cerca de 300 bispos.
A tarefa principal era encontrar fórmulas dogmáticas que resolvessem divergências entre religiosos que tinham vindo à tona após a liberdade de culto e o maior confronto entre os grupos. O temor de Constantino era que as fraturas entre os cristãos pudessem ameaçar a união do império.
O tema mais polêmico era ligado à identidade de Jesus e sua ligação com Deus. Em Alexandria, no Egito, o presbítero Ário dizia que o filho era subordinado ao pai e que não eram a mesma pessoa, dando a entender aos fiéis que Jesus era um Deus inferior.
“Que significa filho de Deus? O Concílio de Niceia responde que ele é da mesma substância do Pai, gerado e não criado. Que o filho é Deus de Deus, luz da luz”, diz Ilaria Vigorelli, professora de teologia dogmática da Pontifícia Universidade da Santa Cruz, em Roma. “A coisa mais importante foi a confirmação, do ponto de vista teológico, da fé trinitária da Igreja, o fato de que ela celebrasse o batismo em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.”
Do concílio surgiu o Credo Niceno —depois aprimorado no encontro de Constantinopla, em 381—, um dos principais legados até hoje. A oração costuma ser recitada em missas solenes da Igreja Católica, enquanto, no dia a dia, é usado o Credo Apostólico, mais curto. O Credo Niceno é um símbolo comum a católicos, ortodoxos, protestantes, anglicanos e outros. “É um sinal de reconhecimento entre cristãos”, afirma a professora.
“O Concílio de Niceia é atual pelo seu altíssimo valor ecumênico”, escreveu o papa Leão 14 na carta apostólica “In unitate fidei” (na unidade da fé), divulgada no domingo (23), em que comenta a importância do evento. “O que nos une é muito mais do que o que nos divide. (…) O Credo de Niceia nos propõe um modelo de verdadeira unidade na legítima diversidade.”




