O PL suspendeu nesta terça-feira (2) o apoio à candidatura do ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) ao Governo do Ceará e decidiu mapear eventuais acordos fechados por Jair Bolsonaro (PL) em outros estados, após a briga entre os filhos do ex-presidente e a mulher dele, Michelle Bolsonaro (PL).
Depois de dois dias de acusações, Michelle se reuniu na sede do PL nesta terça com o enteado mais velho, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o deputado federal André Fernandes (PL-CE), o presidente do partido, Valdemar Costa Neto, e o secretário-geral, senador Rogério Marinho (PL-RN).
Após o encontro, Fernandes disse que Bolsonaro, Valdemar, Flávio e Marinho estavam cientes das conversas com Ciro, mas Michelle, não. O deputado, que é presidente do PL no Ceará, acrescentou que as tratativas no estado seriam suspensas e que a “composição” ocorreria em conjunto.
“Acato a ordem do diretório nacional do presidente Valdemar e do presidente Bolsonaro, que lá atrás havia me autorizado a tentar essas articulações. Mas pelo momento nós vamos dar uma pausa. Nós vamos repensar, nós vamos analisar um futuro melhor para o estado do Ceará e eu agradeço a confiança de continuar à frente nessa articulação”, disse Fernandes.
Flávio e os irmãos Eduardo e Carlos Bolsonaro protagonizaram uma briga pública no domingo (30) e na segunda-feira (1°) desde que a ex-primeira dama criticou o apoio à candidatura de Ciro ao governo do Ceará e falou que o candidato dela é o senador Eduardo Girão (Novo).
Fernandes reagiu à crítica da ex-primeira-dama no domingo dizendo que Bolsonaro havia autorizado a negociação com Ciro em uma tentativa de derrotar o governador Elmano de Freitas, do PT.
Na reunião desta terça, o PL buscou passar a limpo o episódio com Ciro e Girão.
Um participante da reunião disse à Folha que Bolsonaro tentou falar com Ciro por telefone no começo do ano por meio de Fernandes, mas não conseguiu porque o ex-ministro estava em um evento. Depois da tentativa, Fernandes ficou autorizado a articular com Ciro o palanque do PL no estado.
Do outro lado, aliados de Girão afirmam que ele conversou com o ex-presidente no começo do ano por intermédio do senador Magno Malta (PL-ES) na sede do PL, em Brasília. Girão pediu apoio para a candidatura dele ao governo e, em resposta, Bolsonaro teria dito que faria isso, se dependesse só dele.
Integrantes do partido afirmam que a briga serviu para demonstrar que é preciso entender exatamente quais foram as negociações autorizadas por Bolsonaro em cada um dos estados, em especial naqueles onde mais de um candidato busca o apoio do ex-presidente, como Santa Catarina.
Com Bolsonaro preso desde agosto —primeiro em casa e, desde o último dia 25, em regime fechado na Superintendência da Polícia Federal em Brasília—, parlamentares afirmam que só o ex-mandatário sabe exatamente o que ele tratou e com quem.
O PL divulgou uma nota em que afirma que Michelle e Fernandes conversaram a sós antes da reunião desta terça, rezaram juntos e esclareceram suas posições. “Ambos falaram da admiração que sentem um pelo outro e alinharam os próximos passos”, diz trecho da nota.
Ao visitar Bolsonaro de manhã, Flávio declarou que pediu desculpas para a madrasta e que explicou ao pai a situação. À tarde, ele atribuiu episódio a um “ruído de comunicação”, disse que todos conversaram “como adultos” e que o objetivo é derrotar o PT no Ceará.
“O que a gente identifica foi um ruído de comunicação com a Michelle falando com coração, com a autoridade que ela tem, com a verdade que ela carrega nas palavras, em cada evento que ela vai. Sendo exemplo para milhões de mulheres em todo o Brasil”, disse.
“E, do outro lado, a nossa maior liderança no Ceará, André Fernandes. É uma pessoa excepcional, um deputado exemplar e até surpreende às vezes pela maturidade e pela clareza com que ele enxerga o jogo político como poucos. É uma pessoa que conta com a nossa total confiança também”, completou.
Girão não quis comentar a briga entre o clã Bolsonaro e Fernandes. O senador se limitou a dizer que defende uma candidatura de direita. “Sempre procuro a paz, mas defendo uma candidatura autêntica de direita puxando a chapa”, afirmou à reportagem.





