Laboratório vinculado ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, o Instituto Vital Brazil (IVB) anunciou nesta sexta-feira (21) a retomada da fabricação de soros hiperimunes, usados para o tratamento de picadas de animais peçonhentos como cobras e escorpiões, além dos soros antitetânico e antirrábico. A unidade é uma das principais fornecedoras do SUS (Sistema Único de Saúde).
Único laboratório público do Rio de Janeiro, o instituto tem capacidade para produzir 300 mil ampolas por ano, mas a estimativa é fabricar 150 mil em 2026, como parte de uma retomada gradual após cerca de oito anos de paralisação devido a adequações exigidas pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e, depois, aos impactos da pandemia de Covid-19.
“Com a produção regularizada, o Ministério da Saúde passa a contar com uma oferta adicional dos soros hiperimunes, o que contribui para reduzir riscos de desabastecimento e diminuir o tempo de resposta no tratamento dos acidentados, aumentando o acesso ao medicamento, o que por consequência dá uma maior proteção às populações vulneráveis”, diz a diretora industrial do instituto, Camila Braz.
Desde 2022 houve um aumento de casos de picadas de animais peçonhentos atendidos pela rede estadual de saúde do Rio de Janeiro, com 13.205 ocorrências desde então, sendo 28 mortes. Foram 2.766 casos em 2022; 3.671 em 2023; 3.766 em 2024; e 3.002 até 21 de outubro deste ano.
Com a proximidade do verão e o aumento das temperaturas e do volume de chuvas, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo emitiu nesta sexta-feira um alerta sobre o aumento de acidentes com escorpiões e outros animais peçonhentos. Dados da pasta mostram que, até 7 de novembro, foram registradas mais de 34 mil ocorrências relacionadas a escorpiões em 2025, com duas mortes.
O calor e a umidade favorecem a proliferação desses animais, que buscam abrigo em casas, quintais e áreas externas pouco cuidadas. Em caso de picada, recomenda-se lavar o local, usar compressa morna e procurar atendimento médico imediatamente, especialmente no caso de crianças, mais vulneráveis às complicações mais graves.
Como é produzido o soro hiperimune
A fabricação dos soros hiperimunes no Instituto Vital Brazil começa na Fazenda Vital Brazil, em Cachoeiras de Macacu, na região metropolitana do Rio de Janeiro. Lá os cavalos são imunizados com pequenas quantidades de venenos de interesse médico, além das toxinas responsáveis pelo tétano e pela raiva. Após alguns dias, quando os animais já produziram anticorpos suficientes, o sangue é coletado, e o plasma, separado, etapa que dá origem à matéria-prima dos soros.
Esse plasma é então enviado para o laboratório em Niterói, onde permanece refrigerado até o início da produção. A partir daí, passa por uma sequência de etapas destinadas a concentrar e purificar os anticorpos. O material é lavado, transferido para um reator estéril e submetido a um processo que preserva apenas a fração ativa dos anticorpos. Em seguida ocorre a precipitação e uma série de outros processos, como diafiltração, clarificação e isotorização, que removem impurezas e estabilizam o produto.
Só depois dessa etapa o concentrado segue para os testes de controle de qualidade. Se aprovado, o material é formulado, envasado, revisado e acondicionado para distribuição. Depois de pronto, o soro tem validade de até três anos na rede pública.
Um lote de soro leva, em média oito meses para ficar pronto. Cada tipo de soro tem um rendimento diferente, podendo gerar mais ou menos ampolas por lote produzido.
O IVB também conduz estudos para a produção do soro antiapílico, contra veneno de abelhas africanizadas. Já foram concluídas as fases de estudo clínico 1 e 2 e será iniciada a fase 3, que vai testar segurança e eficácia em humanos.
“Temos grandes expectativas com esse novo produto, uma vez que vem crescendo no Brasil o número de acidentes com abelhas que poderiam ser tratados com esse soro hiperimune. Porém, esse aumento de portfólio não é imediato e precisa ser avaliado pelas autoridades sanitárias após conclusão de estudo que garanta qualidade e segurança aos pacientes”, afirma a diretora industrial.
O soro antilatrodético, usado em casos de acidente com a aranha viúva-negra, também é produzido pelo instituto conforme a demanda.





