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Gigantes chinesas de tecnologia suspenderam seus planos para emitir stablecoins em Hong Kong, depois que o governo mostrou preocupações sobre o aumento de moedas controladas pelo setor privado.
Empresas como o Ant Group, apoiado pela Alibaba, e o grupo de comércio eletrônico JD.com haviam anunciado durante o verão (inverno no Brasil) que participariam do programa piloto de stablecoins de Hong Kong ou emitiriam produtos lastreados em ativos virtuais, como títulos tokenizados.
Mas desde então, elas frearam suas ambições com stablecoins após receberem instruções de reguladores chineses, incluindo o PBoC (Banco Popular da China) e a CAC (Administração do Ciberespaço da China), para não darem andamento ao plano, segundo várias pessoas familiarizadas com a situação.
Funcionários do PBoC aconselharam contra a participação no lançamento inicial de stablecoins, pois temem se os grupos de tecnologia e corretoras terão permissão para emitir qualquer tipo de moeda, disseram cinco pessoas.
Uma pessoa com conhecimento das reuniões do banco central com os grupos de tecnologia disse que a emissão de stablecoins administradas por entidades privadas também era vista como um desafio ao projeto de moeda digital do PBoC: o e-CNY.
De acordo com uma das fontes ouvidas, a maior preocupação regulatória é sobre quem terá o direito de cunhagem: o banco central ou qualquer empresa privada no mercado.
Stablecoins são tokens digitais vinculados a moedas reais como o dólar americano e são uma peça fundamental do comércio de criptomoedas.
A resistência das autoridades chinesas destaca como reguladores em todo o mundo estão ansiosos para responder ao crescimento das stablecoins, particularmente depois que a administração Trump as promoveu como um pilar das finanças convencionais e um meio para projetar a dominância do dólar americano.
O Banco Central Europeu afirmou que a adoção generalizada de stablecoins em dólar poderia dificultar sua capacidade de controlar a política monetária.
A HKMA (Autoridade Monetária de Hong Kong, o banco central do território) começou em agosto a aceitar inscrições para emissores de stablecoins, estabelecendo-se como local de testes no continente.
Na China, o interesse no programa de Hong Kong aumentou durante o verão, com alguns funcionários sugerindo que stablecoins denominadas em yuan potencialmente impulsionariam o uso internacional da moeda chinesa.
Zhu Guangyao, ex-vice-ministro das Finanças da China, argumentou em junho que “o propósito estratégico por trás da promoção norte-americana de stablecoins é preservar a supremacia do dólar” e é crucial para a China responder a esse desafio financeiro com o desenvolvimento de uma stablecoin vinculada ao yuan.
“Devemos aproveitar plenamente os programas piloto em Hong Kong”, avaliou Zhu em um fórum em Pequim em junho. “A stablecoin de yuan deve ser integrada ao design geral da estratégia financeira nacional”.
Mas duas pessoas com conhecimento dos planos dos grupos de tecnologia disseram que os reguladores financeiros estavam adotando uma abordagem mais cautelosa após um discurso de Zhou Xiaochuan, ex-governador do PBoC, no final de agosto.
Em um fórum financeiro em Pequim, Zhou pediu uma avaliação completa das stablecoins e dos potenciais riscos sistêmicos que elas representavam. “Precisamos estar atentos com o risco de stablecoins sendo excessivamente utilizadas para especulação de ativos, pois o direcionamento incorreto poderia desencadear fraudes e instabilidade no sistema financeiro”, alertou Zhou.
O ex-governador pediu uma “avaliação cuidadosa da verdadeira demanda de tokenização como base tecnológica”. “Embora muitos acreditem que as stablecoins reformularão o sistema de pagamentos, na realidade, há pouco espaço para reduzir custos no sistema atual, particularmente em pagamentos de varejo”.
O PBoC recusou-se a comentar. A HKMA disse que não comenta rumores de mercado. CAC, Ant e JD.com não responderam aos pedidos de comentário.





