Aprovada nesta quarta-feira (26) pela Anvisa, a vacina do Instituto Butantan contra a dengue vai ampliar a oferta de doses no SUS (Sistema Único de Saúde), além de baratear o custo da imunização no país.
O prognóstico é da infectologista Raquel Stucchi, doutora em infectologia e professora da Faculdade de Medicina da Unicamp.
Para ela, a aprovação da Butantan-DV corrige, principalmente, a limitada capacidade produtiva da Takeda, que produz a Qdenga, até então o único imunizante disponível no PNI (Programa Nacional de Imunizações).
A principal diferença da Butantan-DV em relação à Qdenga é a aplicação em dose única, o que facilita o sucesso das campanhas de vacinação.
De acordo com o Instituto Butantan, a aplicação em uma dose beneficia a logística das campanhas vacinais e amplia a oferta do imunizante.
Na avaliação de Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações, o novo imunizante deve trazer benefícios não só para o Brasil como para todo o mundo, “já que a dengue é uma doença em franca expansão e o aquecimento global tem contribuído com esse avanço”.
Veja, a seguir, outras diferenças entre as vacinas Butantan-DV e Qdenga.
Eficácia
Testes apontaram que o imunizante do Butantan tem 100% de eficácia contra hospitalizações por dengue. O estudo, conduzido entre 2016 e 2024, avaliou a Butantan-DV em mais de 16 mil voluntários de 14 estados do país. Quanto à Qdenga, a eficácia é de apresenta 84,1% de eficácia contra hospitalizações é de 84,1%.
Já a eficácia geral é de 74%, no caso da Butantan-DV, e de 80% para a Qdenga. Esses percentuais referem-se ao controle de sintomas da doença entre os voluntários que participaram dos testes de ambas as vacinas.
Contraindicações
As duas vacinas possuem tecnologia similar. São produzidas a partir do vírus vivo atenuado, que utiliza uma versão enfraquecida do vírus original, capaz de estimular uma resposta imunológica robusta no organismo.
Embora essa resposta ocorra sem causar a doença, essas vacinas ainda não foram aprovadas para gestantes, lactantes e pessoas que tenham imunodeficiências primárias ou adquiridas.
Público-alvo
A autorização concedida ao Butantan permite vacinar pessoas entre 12 e 59 anos de idade. A ampliação para outras faixas etárias depende de resultados mais amplos, que deverão ser submetidos à Anvisa. De acordo com o instituto, há testes em curso para a aplicação do imunizante em idosos.
Já a Qdenga traz em sua bula a indicação de que pode ser aplicada em pessoas com idades entre 4 e 59 anos. A vacina do laboratório Takeda também passa por outras análises antes de ser liberada para idosos.
Custo
Segundo o contrato firmado entre o Ministério da Saúde e a Takeda, cada dose da Qdenga custa R$ 95.
Ainda não há informações de preço da vacina do Butantan, uma vez que o valor ainda será definido pela Cmed (Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos).
“Em linhas gerais, esperamos que essa vacinação custe menos ao Estado no valor por dose. Mas o custo operacional com certeza deve ser muito menor, uma vez que não precisa fazer campanhas por segunda dose, não precisa correr atrás do público alvo uma segunda vez, transportar esses imunizantes e todas essas etapas correlatas à vacinação”, diz a infectologista Raquel Stucchi.
Cuidados
Ambos os imunizantes têm eficácia considerada muito boa contra os sorotipos 1 e 2 da dengue.
Para os sorotipos 3 e 4, considerados mais raros, há necessidade de mais estudos, diz Stucchi. Isso porque, uma vez que a circulação desses sorotipos é menor, os testes acabam sendo menos consistentes.
Por isso a infectologista ressalta a necessidade de manter os velhos cuidados contra o Aedes aegypti —que também transmite zika e chikungunya, doenças para as quais a Butantan-DV e a Qdenga não oferecem proteção. “A chegada da nova vacina é uma nova ferramenta contra a dengue, não a única.”





